Críticas


HULK

De: ANG LEE
Com: ERIC BANA, JENNIFER CONNELY, NICK NOLTE, SAM ELLIOTT
30.06.2003
Por Marcelo Janot
DIVERTE COMO UM GIBI, E NADA MAIS

É papel do crítico de cinema procurar enxergar além do que um filme mostra em sua aparência. Um filme-pipoca hollywoodiano pode, da mesma forma que uma obra de Godard, ser objeto de leituras psicanalíticas, filosóficas, antropológicas, ideológicas, etc. Muitas vezes partimos do pressuposto de que o diretor (ou o roteirista) quis embutir tais significados em seu produto. É comum cineastas rechaçarem as interpretações da crítica, assim como também há o caso daqueles que dizem que certas críticas fizeram com que eles percebessem aspectos novos em seus próprios filmes.



Há um outro caso, também, que é o do cineasta que, para valorizar a própria obra, enumera uma pá de teorias a respeito do filme. Mas se esquece que da intenção à boa realização há uma grande distância, e por conseguinte os espectadores e a crítica não conseguirão enxergar nenhum dos significados ditos por ele.



E aí chegamos ao Hulk de Ang Lee. O diretor taiwanês tem uma obra repleta de belos filmes carregados de sentidos filosóficos e existenciais, como Tempestade de Gelo, O Tigre e o Dragão e O Banquete de Casamento, entre outros. Fica claro que, ao contratá-lo para dirigir o filme, a Universal Pictures quis dar mais credibilidade artística ao seu blockbuster. Por isso, dá pra entender que, em entrevista ao repórter Jaime Biaggio, do jornal O Globo, Ang Lee diga: “O filme toca no subconsciente, no lado selvagem que tentamos sufocar. A nossa identidade não é o que somos. É o que a vida impõe. Por baixo, há muita agressão, uma vida que tentamos esconder para sermos civilizados. A modificação física é a metáfora para a agressão interna”.



OK, no papel tais palavras soam pomposas, mas traduzi-las na tela é que são elas. E nesse aspecto o filme fracassa pela superficialidade e obviedade. Entretanto, se visto pura e simplesmente sob o ângulo do entretenimento, Hulk é bem satisfatório e divertido, como uma história em quadrinhos para crianças e adolescentes deve ser. Aliás, Ang Lee acertou em cheio na concepção estética do filme, aproximando-o da linguagem dos quadrinhos na montagem, nos detalhes dos enquadramentos e no uso constante do recurso de divisão da tela, como se estivéssemos diante de uma página de gibi.



O roteiro consegue manter por um bom tempo o suspense em relação ao trauma que Bruce Banner carregou desde a infância, só revelado parcialmente no início do filme. Mas falha no desenho dos personagens, especialmente no de Bruce e seu pai David. O Bruce vivido pelo fraco ator australiano Eric Bana é apático demais para quem carrega dentro de si um lado selvagem tão assustador. Nick Nolte, que interpreta David, não precisa dar provas de seu talento, mas o personagem cai na caricatura do psicopata, e vira mera repetição do Willem Dafoe de Homem-Aranha. Assim, praticamente toda a carga existencialista do filme vai por água abaixo.



O problema mais grave do filme é o monstrão digital, que parece um Shrek marombado e saltitante, sem a graça e expressividade de seu “primo” verde. Até há uma boa cena de luta, quando ele se confronta com cães modificados geneticamente, mas é muito pouco para aquilo que deveria ser o principal chamariz do filme. A decepção é maior para quem era fã do seriado de TV e se lembra bem de Lou Ferrigno como o Hulk, muito mais simpático e real que esse Hulk da era digital. Embora Ferrigno faça uma brevíssima aparição no filme como um policial, para os nostálgicos a melhor coisa a fazer é alugar o DVD com episódios do seriado, que está sendo lançado por esses dias.



# HULK

EUA, 2003

Direção: ANG LEE

Roteiro: JAMES SCHAMUS

Produção: GALE ANNE HURD

Fotografia: FREDERICK ELMES

Montagem: TIM SQUYRES e DALLAS PUETT

Música: DANNY ELFMAN

Elenco: ERIC BANA, JENNIFER CONNELY, NICK NOLTE, SAM ELLIOTT, JOSH LUCAS

Duração: 138 min.

site: www.thehulk.com

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário