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TONY RICHARDSON: UMA BIOFILMOGRAFIA E 5 FILMES

03.12.2002
Por Fernando Albagli
TONY RICHARDSON: UMA BIOFILMOGRAFIA E 5 FILMES

Cecil Antonio Richardson nasceu em Shipley, Inglaterra, no dia 5 de junho de 1928. Formou-se em Oxford, onde foi presidente da Sociedade Dramática. Começou a carreira profissional no princípio da década de 1950, como diretor teatral e produtor da cadeia BBC de televisão.







Pouco depois, associou-se ao movimento britânico do Free Cinema, quando escreveu e dirigiu (em colaboração com Karel Reisz) o curta Momma Don´t Allow,1955, sobre um clube de jazz. Nesse mesmo ano, dirigiu, para a televisão, uma versão de Othello.







Nessa época, fundou, com Reisz e Lindsay Anderson, a revista de cinema Sequence, e colaborou na Sight and Sound. A partir de 1956, no Royal Court Theatre, dirigiu peças para a English Stage Company, que fundou com George Devine e cuja expressa finalidade era "revitalizar o teatro inglês". Revelou duas peças do dramaturgo estreante John Osborne - Look Back in Anger e The Entertainer - que determinaram o tom do movimento Angry Young Men, de grande influência (apesar de por pouco tempo) no meio intelectual inglês.







Em 1958, com o mesmo Osborne e Harry Saltzman, fundou a produtora cinematográfica Woodfall e, no ano seguinte, dirigiu o primeiro longa, Odeio Essa Mulher (Look Back in Anger),1959, adaptação da mesma peça de Osborne, com Richard Burton vivendo o anti-herói operário. A seguir, filmou The Entertainer,1960 (que também encenara), com Laurence Olivier, inédito no Brasil e exibido agora, no dia 3 de dezembro, pelo canal Telecine Classic, com o título Vida de Artista.







Esses filmes inauguraram, no cinema inglês, o kitchen sink, apelido inglês para o realismo que enfatizava os aspectos mais sórdidos da vida familiar.







Vieram, em seguida, mais dois soturnos retratos da classe operária: Um Gosto de Mel (A Taste of Honey),1961, baseado na peça de Shelagh Delaney, e The Loneliness of the Long Distance Runner,1962. Com As Aventuras de Tom Jones (Tom Jones),1963, adaptação do romance clássico de Henry Fielding, ganhou os Oscars de melhor filme, direção e roteiro, e a consagração internacional, apesar de muitos acreditarem que o filme foi salvo na montagem.







Depois de produzir para os amigos Karel Reisz e Desmond Davis, foi para os Estados Unidos, contratado para dirigir O Ente Querido (The Loved One),1965, sátira virulenta sobre o mercantilismo mortuário norte-americano, baseado em romance de Alec Waugh. A seguir, abandonou as exigências éticas e estéticas que faziam a força do Free Cinema - movimento que propugnava por um Cinema preocupado com o homem do povo - e os filmes seguintes, com exceção de A Carga da Brigada Ligeira (The Charge of the Light Brigade),1968, mais pela engenhosidade técnica e o elenco estelar, não tiveram o mesmo brilho.







Foi casado com a atriz Vanessa Redgrave (1962-1967), com quem teve duas filhas: Natasha (1963) e Joely Richardson (1965), também atrizes. Ela se divorciou dele alegando adultério com a atriz Jeanne Moreau. Tony Richardson morreu em 1991, de uma infecção neurológica provocada pela AIDS. Seu livro de memórias - Long Distance Runner - , publicado postumamente, ganhou o Prêmio Michael Powell de 1993.







Outros de seus filmes: Santuário (Sanctuary),1961, Chamas de Verão (Mademoiselle),1966, O Marinheiro de Gibraltar (The Sailor From Gibraltar),1966, Red and Blue,1967, A Noite Infiel (Laughter in the Dark / La Chambre Obscure),1969, Hamlet (Hamlet),1969, A Forca Será Sua Recompensa (Ned Kelly),1970, A Delicate Balance (na TV: Um Equilíbrio Delicado),1973, Dead Cert,1973, não creditado em Mahogany,1975, Inocente Sedutor (Joseph Andrews),1977, Fronteiras da Violência (The Border),1981, Um Hotel muito Louco (The Hotel New Hampshire),1984, Céu Azul (Blue Sky),1991.







Para a televisão: Morte em Canaã (A Death in Canaan),1978, Penalty Phase,1986, Rumo ao Sol (Beryl Markham: a Shadow on the Sun),1988 (minissérie), Homens e Mulheres - Histórias de Sedução (Women and Men: Stories of Seduction),1990, filme em episódios, em co-direção com Frederic Raphael e Ken Russell, e The Phantom of the Opera,1991. Estava em seus planos, em 1970, fazer um filme sobre o bailarino Nijinski, com Rudolf Nureyev, que acabou não sendo realizado.







os filmes







ODEIO ESSA MULHER (Look Back in Anger),1958



Segunda-feira, 2 de dezembro de 2002, 22h, com repetição no dia 3, às 9h30min







Odeio Essa Mulher foi encarado como uma expressão da frustração inglesa em relação à situação do país no pós-guerra. A economia se recuperava muito vagarosamente. A reação inadequada de uma elite atrasada, que ainda se apegava a idéias como imperialismo e privilégios de classes, alimentava a discórdia que se manifesta em Jimmy Porter, o protagonista interpretado por Richard Burton.







Na adaptação para o cinema, a peça de John Osborne sofreu modificações, baixando o tom angry. Mesmo assim, o filme foi considerado pelos ingleses "um soco no estômago".







Na cena inicial, Jimmy Porter - arquétipo do angry young man - toca pistom num clube noturno londrino freqüentado por trabalhadores. Ali, não há alegria. Há um sentimento oculto de raiva e ressentimento. Odeio Essa Mulher (Look Back in Anger) é como um desdobramento de sua seqüência inicial - exaltado, raivoso, mas fascinante. É a primeira experiência da Woodfall, companhia produtora de Richardson e Osborne, que foi criada, segundo o dramaturgo, a fim de "provar que bons filmes, aqueles que mostram a vida inglesa como ela é realmente, podem ser feitos sem grandes custos".







Jimmy toca jazz à noite mas gfanha a vida mesmo é com sua venda de doces, numa feira de rua. Sua falta de ambição perturba o relacionamento com a família algo aristocrática da mulher, Allison (Ure), o que provoca, por sua vez, o arrefecimento de seus sentimentos em relação a ela. Quando Helena (Bloom) surge na vida dos dois, o frágil elo que ainda une o casal parece se desfazer de vez.







Richardson dirige com muita habilidade para um estreante. Além dos dramáticos closes, usa com talento a fotografia em preto e branco de Oswald Morris, com as silhuetas e sombras que lembram os efeitos de iluminação dos filmes noir.







Mary Ure ilumina a tela com sua presença. O elenco secundário não fica atrás, principalmente Bloom, Raymond e Evans - esta como a única pessoa que Jimmy ama e respeita incondicionalmente. Mas é Richard Burton - a rigor muito velho para encarnar um Jimmy Porter de 25 anos - quem rouba o espetáculo. Ele é maldoso, terno, humano, num desempenho memorável. Convence plenamente como o sujeito desagradável, tirano de seu pequeno reino, tentando destruir tudo ao seu redor.







Odeio Essa Mulher é psicologicamente violento. E se você procura um motivo para restaurar sua fé na humanidade, não é o filme aconselhável.







Roteiro: NIGEL KNEALE, baseado na peça de JOHN OSBORNE. Produção: HARRY SALTZMAN. Fotografia: OSWALD MORRIS. Montagem: RICHARD BEST. Direção de arte: PETER GLAZIER. Música: JOHN ADDISON, CHRIS BARKER, TOM EASTWOOD (canção). Elenco: RICHARD BURTON (Jimmy Porter), CLAIRE BLOOM (Helena Charles), MARY URE (Alison Porter), EDITH EVANS (Mrs. Tanner), GARY RAYMOND (Cliff Lewis), DONALD PLEASENCE (Hurst), NIGEL DAVENPORT (1º Viajante Comercial). Duração: 115 minutos.







Premiações: Indicado para o prêmio BAFTA, nas categorias FILME, FILME INGLÊS, ATOR INGLÊS (Burton), ROTEIRO INGLÊS. Indicado para o Globo de Ouro na categoria ATOR DE DRAMA (Burton).







Outras versões: Em 1980, dirigida por Lindsay Anderson e David Hugh Jones, com Malcolm McDowell no papel de Jimmy Porter. Para televisão: a primeira em 1976. A segunda em 1989, dirigida por Judi Dench, com Kenneth Branagh e Emma Thompson.















VIDA DE ARTISTA (The Entertainer),1960



Terça-feira, 3 de dezembro de 2002, com repetição no dia 4, às 9h40min







O artista de vaudeville Archie Rice se esforça para manter em cartaz o seu show de variedades na cidade costeira de Marecombe. Ele luta contra uma crescente onda de televisão, cinema e concorrentes mais talentosos.







Sua filha Jean (Plowright) chega de Londres para visitá-lo, depois que o irmão Mick (Finney, em sua estréia no cinema) parte para juntar-se às tropas inglesas no Suez, durante a crise do canal, em meados da década de 1950. Em Marecombe, ela encontra conforto e alegria na companhia do avô Billy, que foi uma verdadeira lenda do burlesco da época. Mas o resto da família - Phoebe, mulher de Archie, e o outro irmão, Frank (Bates, também estreando), parecem sempre frustrados e deprimidos.







Desesperado para conservar seu número no espetáculo, Archie tenta de tudo para conseguir um patrocinador. Chega a tentar levar de volta aos palcos o velho pai, com conseqüências desastrosas. Ele só se preocupa com a carreira, sem se importar com o sofrimento que provoca com isso nas outras pessoas da família. Mas o destino lhe reserva dolorosas surpresas.







É evidente a intenção de John Osborne quando escreveu a peça que originou o filme. Uma alegoria da Inglaterra dos anos 1950. Os melhores momentos são proporcionados pelo afinado elenco, apesar da interpretação acentuadamente teatral. Laurence Olivier está em dia de gala, representando um microcosmo do declínio da estrutura social inglesa, inclusive o fracasso da ação britânica no incidente de Suez.







Nigel Kneale tinha sido o autor do seriado de ficção-científica Quatermass, da BBC. Osborne colaborou com ele na adaptação e roteiro de seu próprio texto. Mesmo assim, o roteiro falha no aprofundamento de personagens, como a Phoebe de Brenda de Banzie, exagerada em sua teatralidade mas sem passar emoção de verdade. A tecnologia do som, na época, também prejudica bastante várias das melhores frases de Roger Livesey, como o velho Billy.







Talvez por uma certa dose de amadorismo, Richardson deixa o talentoso elenco à vontade e até, em muitos momentos, devido a essa liberdade, supera as deficiências do roteiro. Particularmente nas seqüências em que Olivier mostra todo o seu enorme talento na composição de um tipo tão diferente daqueles que nos acostumamos ver criados por ele. Além de contar piadas infames, ele dança e canta canhestramente. É um canalha e sem talento bastante para que se simpatize com ele, apesar de seus defeitos. Nem é humano a ponto de nos emocionar como uma figura trágica. Pelo contrário, é a imagem do patético. O próprio Olivier declarou que Archie Rice é o personagem com quem ele mais se identificou como ator, apesar de não ser este o que vai fazê-lo mais lembrado - assim como Marlon Brando é Don Vito Corleone ou Stanley Kowalski, Sir Laurence será sempre Hamlet, ou Ricardo III, ou Henrique V. Na verdade, seu desempenho como Rice, aperfeiçoado por alguns anos no palco, é um dos raros em que se pode esquecer de que se está assistindo a Laurence Olivier. E a razão principal de se ver o filme com prazer.







Roteiro: NIGEL KNEALE, baseado na peça de John Osborne. Produção: HARRY SALTZMAN. Fotografia: OSWALD MORRIS. Montagem: ALAN OSBISTON. Direção de arte: RALPH BRINTON. Música: JOHN ADDISON. Elenco: LAURENCE OLIVIER (Archie Rice), BRENDA DE BANZIE (Phoebe Rice), ROGER LIVESEY (Billy Rice), JOAN PLOWRIGHT (Jean Rice), ALAN BATES (Frank Rice), DANIEL MASSEY (Graham), ALBERT FINNEY (Mick Rice). Duração: 96 minutos.







Premiações: Indicado para o Oscar na categoria ATOR (Olivier). Indicado para o BAFTA, nas categorias ATOR INGLÊS (Olivier), ROTEIRO INGLÊS e NOVATA PROMISSORA (Plowright).







Versão para TV: Quanto mais Risos Melhor, em 1976, dirigida por Donald Wrye, com Jack Lemmon, Ray Bolger e Sada Thompson.















UM GOSTO DE MEL (A Taste of Honey),1961.



Quarta-feira, 4 de dezembro de 2002, com repetição dia 5, às 10h40min







Negros e brancas, gays e heterosexuais, mães e filhas, pós-adolescentes e a idade chegando. Jo (Tushingham) é uma adolescente da classe trabalhadora, vivendo com a mãe Helen (Bryan), libidinosa e alcoólatra, no norte da Inglaterra. Quando a mãe se casa, impulsivamente, Jo tem que se virar sozinha. Ela aluga, então, um quarto de parceria com Geoffrey (Melvin), um rapaz gay, seu colega de trabalho.







Jo descobre que está grávida, depois de apenas uma noite com Jimmy (Danquash), um marinheiro negro, que parte na manhã seguinte. Geoffrey se entusiasma com a criança e prepara sua chegada, como se fosse o próprio pai. Oferece-se para se casar com Jo. Ela recusa e fica cada vez mais deprimida.







Helen é abandonada pelo marido e, não tendo para onde ir, vai viver com a filha e Geoffrey. Pouco depois de instalada, ela acaba expulsando o rapaz, apesar dos protestos de Jo.







Um Gosto de Mel é a quinta-essência do chamado drama kitchen sink. Alguns de seus componentes já não são tão relevantes como em 1961. Mas com certeza vale a pena (re)vê-lo porque é bem escrito, filmado com talento, e Rita Tushingham nunca mais ganhou um papel que lhe assentasse tão bem - aliás, ela foi uma promessa que acabou não se confirmando.







Os personagens de Shelagh Delaney são o grande trunfo do filme. E há uma forte presença do estigma e do preconceito quanto à miscigenação e o homossexualismo. Apesar do estilo naturalista, o filme também é rico em imagens românticas da paisagem industrial - foi rodado em locações, em Salford - o que cria um interessante contraponto com as questões sociais que aborda. Uma das cenas mais simples e impactantes mostra Jo, em silhueta, sob os arcos da linha férrea, levantando os braços esticados e gritando para Geoffrey: "Nós somos danados de maravilhosos!"







Já muito se discutiu se Richardson e outros diretores ou escritores da época usaram a classe trabalhadora para expor suas próprias frustrações. No entanto, mais de 40 anos após sua estréia, o filme ainda se revela um belo momento do cinema inglês, com seus achados visuais, atuações sensíveis e o bom texto de Delaney.







Roteiro: TONY RICHARDSON e SHELAGH DELANEY, baseado na peça de DELANEY. Produção: TONY RICHARDSON. Fotografia: WALTER LASSALLY. Montagem: ANTONY GIBBS. Design de Produção: RALPH BRINTON. Música: JOHN ADDISON. Elenco: DORA BRYAN (Helen), ROBERT STEPHEN (Peter), RITA TUSHINGHAM (Jo), MURRAY MELVIN (Geoffrey), PAUL DANQUASH (Jimmy). Duração: 100 minutos.







Premiações: Indicado para o prêmio BAFTA, nas categorias: FILME, NOVATO MAIS PROMISSOR (Melvin), FILME INGLÊS, ROTEIRO INGLÊS, ATRIZ INGLESA (Bryan), NOVATA MAIS PROMISSORA (Tushingham), ganhando nas quatro últimas. Em Cannes, ganhou nas categorias ATOR (Melvin) e ATRIZ (Tushingham). Globo de Ouro: NOVATA MAIS PROMISSORA (Tushingham, empatada com Patty Duke e Sue Lyon). Sindicato dos Escritores da Grã-Bretanha: ROTEIRO DE DRAMA INGLÊS.











CHAMAS DE VERÃO (Mademoiselle),1966.



Quinta-feira, 5 de dezembro de 2002, com repetição no dia 6, às 8h40min







Com texto de Jean Genet e Marguerite Duras, este é um bizarro drama de obsessão em que Jeanne Moreau faz o papel-título-original. Mademoiselle é uma professora primária, recém-chegada numa cidadezinha da França. Emocionalmente perturbada, reprimida sexualmente, ela consegue esconder suas tendências anti-sociais dos vizinhos, que a respeitam e admiram.







Como em grande parte das histórias sobre repressão sexual, é um forasteiro que desencadeia a explicitação dos desejos. Em Chamas de Verão, o personagem é Manou (Manni), um bonito e viril lenhador italiano de sonora gargalhada, que costuma aparecer na época da derrubada das árvores. Dessa vez, ele trouxe o filho Bruno (Skinner) e o amigo Antonio (Orsini). O menino começa a freqüentar as aulas de Mademoiselle.







Logo, a cidade começa a sofrer inundações, incêndios, envenenamento de animais. A reação dos habitantes locais é culpar o estrangeiro. Mas é Mademoiselle, como vemos logo na primeira seqüência do filme, que provoca esses desastres.







Genet criou um mundo de pessoas simples, facilmente manipuladas por uma mulher patologicamente esperta, que se aproveita dos seus preconceitos. Cada vez mais, eles se convencem da culpa de Manou. E começa a surgir um movimento surdo, que se espalha aos poucos, contra o "inimigo".







No filme, o Mal não é apresentado como algo simbólico, uma entidade viva, como em clássicos de horror. Ele é um simples elemento cotidiano da natureza humana. Mademoiselle não representa o Mal, ela o pratica, como uma mulher frustrada, contra o mundo. Obcecada pelo macho que não recusa seus favores sexuais a outras mulheres da cidade, ela o observa, escondida, e satisfaz seus desejos secretos incendiando celeiros e colocando veneno na água dos animais. Como numa relação sádica que não se realiza pelo contato sexual, ela sente prazer provocando dor e sofrimento.







O belo cenário bucólico dos bosques e lagos, a tranqüilidade da vida interiorana, constróem o contrastante pano de fundo para uma história onde o mal prevalece, da mesma forma que David Lynch usou, bem mais tarde, cidadezinhas americanas, em Veludo Azul, Twin Peaks, Coração Selvagem.







Moreau constrói sua personagem com a necessária impassibilidade de expressão, como se tudo acontecesse como desígnio de um destino ao qual não pode escapar. Está brilhante. Os outros personagens giram ao seu redor, com exceção de Bruno, o menino que contracena com ela na seqüência final, o único que sabe de toda a verdade.







A história é absolutamente original. A câmera passeia por uma iluminação ironicamente de românticos filmes em preto e branco. Por tudo, inclusive por seu final cínico e antológico, Chamas de Verão é uma espécie de clássico perdido.







Roteiro: MARGUERITE DURAS, baseado em história de JEAN GENET. Produção: OSCAR LEWENSTEIN. Fotografia: DAVID WATKIN. Montagem: ANTONY GIBBS, SOPHIE COUSSEIN (versão francesa). Design de Produção: JACQUES SAULNIER. Elenco: JEANNE MOREAU (Mademoiselle), ETTORE MANNI (Manou), UMBERTO ORSINI (Antonio), KEITH SKINNER (Bruno), GEORGES AUBERT (René). Duração: 100 minutos.







Premiações: Indicado para o prêmio BAFTA, nas categorias de FOTOGRAFIA e FIGURINOS de filme inglês, ganhando nesta última. Em Cannes, concorreu à PALMA DE OURO.











O MARINHEIRO DE GIBRALTAR (The Sailor From Gibraltar),1967.



Sexta-feira, 6 de dezembro de 2002, com repetição no dia 7 às 8h15min







Alan (Bannen) é um jovem inglês que trabalha num escritório e está visitando a Itália em companhia da namorada Sheila (Redgrave). Enfastiado de tudo, do próprio trabalho e da vida que leva, inclusive da moça, ele não se entusiasma nem com a belíssima Florença e a visita aos museus.







Depois de desfazer o relacionamento com Sheila, Alan se interessa por Anna (Moreau), uma misteriosa e riquíssima mulher que vive a bordo de um iate. Anna é francesa e viúva de um milionário americano que lhe deixou uma grande fortuna. Há muitos anos, quando ainda solteira, ela teve um caso de amor com um marinheiro. E é à sua procura que ela viaja pelo mundo em seu maravilhoso veleiro, com uma fiel tripulação.







Alan se junta a ela em sua busca. E encontram alguns enigmáticos personagens pelo caminho, dentre eles Louis de Mozambique (Orson Welles, talvez no pior papel de sua carreira - mesmo quem entende inglês não consegue decifrar tudo que ele fala), que lhes dão complicadas pistas sem sentido sobre o paradeiro do marinheiro. O estranho é que, por mais absurda que sejam as pistas, eles sempre encontram a pessoa indicada, que nunca é o procurado marinheiro.







O romance, que Marguerite Duras escreveu em 1952 e no qual se baseia o filme de Tony Richardson, já não é dos melhores da autora de Hiroshima, Meu Amor. O filme não o melhora. É difícil perceber se a relação entre Anna e o personagem-título simboliza a eterna busca de amor, que cessa quando ela e Alan percebem estar apaixonados, ou se, ao contrário, é uma alegoria da intangibilidade do amor.







São discutíveis, até, as indicações para o prêmio BAFTA, nas categorias de fotografia e figurinos. Não que sejam ruins, mas inexpressivos, nada acrescentando ao filme como um todo.







Roteiro: CHRISTOPHER ISHERWOOD, DON MAGNER e TONY RICHARDSON, baseado no romance Le Marin de Gibraltar, de MARGUERITE DURAS. Produção: NEIL HARTLEY e OSCAR LEWENSTEIN. Fotografia: RAOUL COUTARD. Direção de arte: MARILENA ARAVANTINOU. Música: ANTOINE DUHAMEL. Elenco: JEANNE MOREAU (Ana), IAN BANNEN (Alan), VANESSA REDGRAVE (Sheila), ORSON WELLES (Louis de Mozambique), HUGH GRIFFITH (Llewellyn), UMBERTO ORSINI, ARNOLDO FOÁ, JOHN HURT. Duração: 91 minutos.



Premiação: Indicado para o prêmio BAFTA, nas categorias de FOTOGRAFIA e FIGURINOS de filme inglês.







* do livro Tudo Sobre o Oscar, de Fernando Albagli

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