Críticas


KÁTIA

De: KARLA HOLANDA
19.07.2013
Por Carlos Alberto Mattos
A primeira travesti eleita para um cargo político no Brasil

Estreia no Rio, diariamente às 16 horas no Instituto Moreira Salles, o documentário Kátia, de Karla Holanda. A diretora explica desde os letreiros iniciais que o filme é resultado do seu convívio de 20 dias com a personagem-título, a primeira travesti eleita para um cargo político no Brasil. Ou seja, prepara-nos para encontrar não uma investigação de longo prazo sobre a história de Kátia Tapety no interior do Piauí, mas um perfil rápido e fortemente ligado ao presente.

Ainda assim, é interessante ver os recursos que Karla utiliza para ir além do mero rascunho de personagem. Ora ela se limita a observar as atividades de Kátia no trabalho do campo – onde sua energia evoca o José Nogueira Tapety que ela um dia já foi –, ora deixa Kátia assumir um pouco as rédeas do filme que está sendo feito sobre ela. Por vezes, provoca conversas reveladoras com amigos, parentes e autoridades. Em outros momentos, colhe a verve histriônica de Kátia em performances diretas para a câmera.

A sequíssima Colônia do Piauí, no agreste piauiense, não fica muito longe de onde Karla Holanda nasceu, no mesmo estado. Ela é professora, autora de documentários e de um importante trabalho de pesquisa que resultou no livro O Documentário Nordestino (Annablume/Fapesp, 2008). Kátia tem qualidades dos melhores docs feitos na região: o valor dramático da paisagem (expressivamente captada pela câmera de Jane Malaquias), o ouvido atento para os falares do povo e a atenção para personagens que eventualmente destoem do status quo local. Kátia, pertencente a uma rica e tradicional família envolvida com a política no sertão do Piauí, não deixou de seguir a carreira somente por vestir-se e agir como mulher desde muito jovem. Venceu a oposição doméstica e foi eleita vereadora por três vezes e vice-prefeita de sua cidadezinha de apenas 8 mil habitantes. Virou exemplo de afirmação para transgêneros de todo o Brasil.

Mesmo em cargo de suplência no período das filmagens, lá está ela fazendo as visitas miúdas à população, tentando solucionar problemas alheios e também os seus próprios. Por exemplo, como legalizar a adoção de um filho no papel de mãe, se a Justiça só lhe permite fazê-lo como pai?

Kátia nos leva a conviver, ainda que brevemente, com uma figura sob todos os aspectos extraordinária. Mais informações no site oficial.

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário



Outros comentários
    624
  • Roquiçana
    23.09.2013 às 11:39

    Adorei,mesmo porque fala realmente a vida de verdade do povo nordestino especificamente de minha terra natal.(Colônia do Piauí).lindo documentário.