Críticas


NORWEGIAN WOOD

De: TRAN ANH HUNG
Com: KEN'ICHI MATSUYAMA, RINKO KIKUCHI, KIKO MIZUHARA
26.07.2013
Por Ricardo Cota
História de amor pós-adolescente de complexa geometria e rara expressão poética.

Wong Kar Wai não está só. Ainda bem. Com Como Na Canção dos Beatles: Norwegian Wood, Tran Anh Hung entra na categoria de mestre do melodrama contemporâneo. Sem abandonar a platitude e o refinamento estético de suas produções anteriores, a trilogia O Cheiro do Papaia VerdeEntre a Inocência e o Crime e As Luzes de um Verão - Tran Anh Hung, munido de um roteiro poderoso, inspirado em romance Huraki Murakami, materializa uma história de amor pós-adolescente de complexa geometria e rara expressão poética.



O contexto de Norwegian Wood reforça suas intenções. Em meio à efervescência política da Tóquio do final dos anos 60, Watanabe, um jovem solitário, alheio à turbulência política, vive experiências definitvas para consumar seu rito de passagem à vida adulta. O triângulo inicial mostra Watanabe como testemunha do amor platônico entre Naoko e Kizuki, um jovem que se suicida inexplicavelmente nos dez minutos iniciais. A tragédia afasta temporariamente Watanabe e Naoko, que ao se reencontrarem iniciam um romance marcado pela sombra da perda de Kizuki.



O cineasta Tran Anh Hung segue essa história marcada pela loucura, frigidez, insegurança sexual e sobretudo pelo espectro da morte sem economizar na utilização dos recursos técnicos que o consagram como um dos grandes estetas da contemporaneidade. O prazer de filmar está presente a cada plano, a cada travelling, a cada close. Tran Ahn Hung é um mestre da contemplação e abusa, sem agredir o espectador, do contraponto entre o drama dos personagens e as mutações climáticas e naturais do tempo dramático.



Como em seus outros filmes, Norwegian Wood é um esforço coletivo. Ao naturalismo dos excelentes atores, somam-se uma impecável trilha sonora, sob o comando de Jonny Greenwood, e a fotografia de Mark Lee Ping-Bin. Na trilha original, Greenwood, o mesmo de Sangue Negro, mescla solos delicados de guitarra com inflexões melodramáticas de violinos, além de citar clássicos do pop, entre eles a evidente “Norwegian Wood”, dos Beatles, que dá título ao filme.



Quanto à fotografia, basta lembrar que Lee Ping-Bin é o diretor de fotografia de Amor à Flor da Pele, do supracitado Wong Kar Wai. É ele quem dá ao filme a coloração poética que traduz os diversos estados de espírito do protagonista e de seus pares. Depois de uma passagem mal-sucedida por Hollywood, onde realizou o aculturado Fugindo do Inferno, Tran Anh Hung retorna ao cinema autoral e se afirma no panteão dos grandes com esta balada de amor e dor.

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