Críticas


PIRATAS DO CARIBE

De: GORE VERBINSKI
Com: JOHNNY DEEP, ORLANDO BLOOM, KEIRA KNIGHTLEY, GEOFFREY RUSH
08.09.2003
Por João Mattos
CONTRARIANDO PREVISÕES

Assim como em todos os anos, ao final da temporada de cinema do verão dos EUA (inverno do Brasil), a época dos chamados filmes arrasa-quarteirões (blockbusters), será anunciado a quebra do recorde de arrecadação do ano anterior. Assim como todo os anos, esta será uma meia-verdade, já que a cada ano as grandes bilheterias ficam concentradas num número cada vez menor de filmes (que faturam quantias astronômicas), e aumenta o número de filmes que fracassaram, arrecadando pouco e ainda por cima tendo gasto demais. Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra, tudo indica, ficará no cômputo geral com o segundo lugar nas bilheterias atrás do desenho animado Procurando Nemo (primoroso, cheio de nuances, digno de um lugar entre os dez melhores filmes do ano).



É uma feliz coincidência que estes dois belos filmes sejam os dois maiores sucessos da temporada de verão dos EUA, tanto com o público como entre a crítica (do mundo inteiro). Em meio a filmes de verão decepcionantes (Matrix Reloaded, Exterminador do Futuro III), frouxos (Lara Croft II), quando não atrozes (Panteras II), sem falar nas possíveis porcarias ainda não estreadas (como o execrado, fracassado e longuíssimo Bad Boys II), Piratas, bom por si só, se sobressai ainda mais. Só que nada faria crer que ele pudesse ser diversão de alto nível. O subgênero filmes-de-pirata estava moribundo em meio à homenagens sem pujança (Piratas, de Roman Polanski), e revisões cretinas (A Ilha da Garganta Cortada, que ajudou a falir o estúdio que o produziu). A idéia-base do filme foi tirada de uma atração temática de um parque da Disney – quase sempre este tipo de conceito dá errado. E para completar, o produtor Jerry Bruckheimer(Piratas do Caribe é sem dúvida um filme de produtor), um dos criadores do moderno conceito de fitas arrasa-quarteirões, tem carreira no mínimo questionável nos anos 90, com dois pontos baixos marcantes: Armageddon e Pearl Harbor.



Felizmente as previsões estavam erradas. O plot do filme (basicamente envolvendo um grupo de piratas para lá de especiais, o ex-capitão do navio, e um jovem casal) dá margem a um roteiro correto, que ao mesmo tempo que segue os cânones do subgênero tem seus toquezinhos de criatividade (como a ironia anti-hedonista da maldição que afeta os piratas; o comportamento mais independente da mocinha, as questões sobre honra e papel social tratadas de melhor forma do que o usual). Isto poderia não render nada se a composição imagética dos últimos filmes de Bruckheimer (sempre confusa e irritante) fosse seguida com fidelidade. Piratas, embora siga o mesmo estilo de cores, iluminação, enquadramentos, ritmo e emprego de efeitos especiais das obras produzidas por Bruckheimer, não se parece com esses filmes. Tem uma narração límpida, eficiente, muitas vezes empolgante, em que se entende o que está acontecendo numa luta e com quem (e o momento da revelação dos piratas no navio é sensacional), que entretém e na qual as eventuais pirotecnias têm lógica, ao contrário de alguns outros filmes em que elas servem como subterfúgios para tapear os espectadores, esconder deficiências gerais. Talvez o que Bruckheimer precisasse mesmo era um diretor como o de Piratas, Gore Verbinski, um cineasta que vai de Ratinho Encrenqueiro a O Chamado sem muito brilho mas também sem arroubos fúteis e mediocridades variadas de alguns diretores que trabalharam com o produtor, tais como Michael Bay, Dominic Sena, David McNally e Joel Schumacher.



Se há algum defeito maior neste filme, ele é realmente estético - por vezes Piratas tem iluminação escura demais. Isto é fruto de uma insegurança generalizada em relação aos efeitos digitais usados nos arrasa-quarteirões atuais, e a iluminação escura é para torná-los menos aparentes e esconder sua artificialidade ainda óbvia. O destaque do bom elenco vai para a fenomenal composição de Johnny Depp como Jack Sparrow, o pirata em busca de vingança que ajuda o casal central. O rei dos personagens marginais, esquisitos ou alternativos (como queiram chamar) volta pela primeira vez em muitos anos a participar de uma super-produção hollywoodiana e dá um show de super-representação afetada, rocambolesca, ao mesmo tempo engraçada, cruel e tristonha. Das atuações mais saborosas do ano.



OBS: Depois de rolarem todos os créditos, há uma ceninha de uns 30 segundos em que se muda o sentido do fim do filme e é dada a deixa para uma continuação.



# PIRATAS DO CARIBE (Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl )

EUA, 2003

Direção: GORE VERBINSKI

Roteiro: TED ELLIOTT / TERRY ROSSIO

Produção: JERRY BRUCKHEIMER / PAUL DEANSON

Fotografia: DARIUSZ WOLSKI

Montagem: ARTHUR SCHMIDT / STEPHEN E. RIVKIN / CRAIG WOOD

Música: KLAUS BADELT

Elenco: JOHNNY DEEP, ORLANDO BLOOM, KEIRA KNIGHTLEY, GEOFFREY RUSH, JONATHAN PRYCE, JACK DAVENPORT.

Duração: 143 min

site: http://disney.go.com/disneypictures/pirates/index.html

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