Críticas


ELYSIUM

De: NEILL BLOMKAMP
Com: MATT DAMON, JODIE FOSTER, ALICE BRAGA, SHARLTO COPLEY, WAGNER MOURA
12.09.2013
Por Luiz Fernando Gallego
Parece mais um jogo de video game do que tendo uma (apenas aparente) conotação social.

Em Elysium, o diretor e roteirista Neill Blomkamp volta a utilizar o gênero de ficção-científica aplicado ao subgênero de futuro distópico para falar do presente, aludindo às diferenças de classes sociais e ao poder do dinheiro, ao desequilíbrio econômico mundial distanciando as populações de países ricos e as de outras regiões em estado de penúria - e ao que nos aguarda por conta de descuido de questões ecológicas evoluindo para catástrofes ambientais. A rigor, nada muito diferente do que ele desenvolveu no cultuado Distrito 9.

Vemos pelo menos três personagens, sendo dois deles protagonistas, precisando desesperadamente sair do nosso planeta (transformado em uma grande favela decrépita e infecta no ano de 2154) para chegar a uma estação espacial - a “Elysium” do título - onde fantásticos tratamentos através de tecnologia (milagrosa para nossos critérios atuais) podem curar até mesmo leucemias agudas em fase terminal. Quem ficou na Terra só encontra atendimento em hospitais superlotados, sem condições de oferecer nem mesmo os tratamentos “antigos” (como os de nossos dias e que também escapam às populações carentes). O que vemos na tela é uma espécie de “PAM-de-onde-o-judas-perdeu-as-botas”, parecendo longe daqui no tempo e no espaço, mas... por aqui mesmo.

Por outro lado, a necessidade de manter a ação incessante, criando dificuldades em nível crescente para o protagonista acaba por deixar o filme mais parecido com um jogo de videogame do que com um filme de conotação social, elemento que acaba se revelando mera embalagem para um público menos ligado em jogos, mas que talvez vá ficando cansado com a profusão de detalhes ligados à cultura pop, como a espada-sabre do vilão, recurso a uma armadura do tipo exoesqueleto, droides, etc

Outro ponto que pode incomodar o espectador mais exigente é a mescla de doses de pieguice com o lado “humanista” do roteiro (criança doente, pactos de união na infância) que vai se revelando a cada minuto bem menos interessante do que o argumento, não só por essas concessões melodramáticas como para atender ao público que busca movimentação o tempo todo de duração de um filme.

Com tal preferência pela ação sobre a reflexão, os personagens não passam de estereótipos e clichês que em nada ajudam às performances dos atores. Assim é que Matt Damon trabalha quase durante toda a projeção com o semblante de uma expressão só, sombrio, desesperado/amargurado; e Jodie Foster repete uma de suas chaves favoritas como poderosa/fria/antipática/vilã e, como virou seu hábito nos últimos anos, incorrendo em overacting. Os atores latinos (cota?) são aquinhoados com um milímetro a mais de modulação em seus personagens e Alice Braga confirma seu carisma discreto enquanto Wagner Moura aceita o jogo de um tipo que parece ter sido concebido já como uma caricatura, mas ainda assim o ator faz conforme o figurino. Diego Luna pouco tem a contribuir no papel-clichê de “amigo do herói”.

No final, o único ponto razoável do filme é mostrar que nem em ficção bastam “mais médicos”: é necessário mais tecnologia e infraestrutura.

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário