A melhor maneira de definir a estréia do ator Matt Dillon na direção em Cidade de Fantasmas, estrelando ele mesmo, é que embora ele tenha algo a dizer, não sabe muito como fazê-lo, mas o faz com certa eficiência, e que esse filme não merece desprezo. Dillon, entronizado para a fama no princípio dos anos 80 com papéis de jovem rebelde em Tex, O Selvagem da Motocicleta e Vidas Sem Rumo, cria, muito provavelmente de forma involuntária (nem por isso menos interessante), uma ponte moral entre os jovens e um cara que chegando ao seus 40 anos (e que bem poderia ser um daqueles garotos chegando à maturidade), viaja a um país que não conhece e lhe soa exótico (o Camboja), buscar as respostas sobre uma picaretagem financeira na qual se envolveu nos EUA.
Se os jovens viviam em conflito sobre o começo da construção da identidade pessoal, este homem adulto descobre a miséria emocional da própria vida, de ser como é. Sob esse homem, uma atmosfera de exotismo mútua típica de filmes (de todo o mundo) que mostram viagem ao exterior, do estrangeiro (o americano) para com o país que visita, e vice-versa, e que tem sua pitada de simpatia também mútua no relacionamento dele com o motorista que lhe serve de guia. Pena que os conflitos não sejam desenvolvidos com muita força, e que como trama de aventura simples, o filme não empolgue muito, mas o ator/diretor ao menos tangencia estes assuntos, e demonstra uma surpreendente segurança técnico-narrativa, em especial na cena do seqüestro. Como o mentor intelectual de Dillon, James Caan aparece de forma interessante, numa nova prova de que a passagem do tempo tem feito bem ao ator. Mas só o talento natural de Gérard Depardieu empresta alguma simpatia ao bufão francês que ele tem que interpretar.
# CIDADE DOS FANTASMAS (City of Ghosts)
EUA, 2003
Direção: MATT DILLON
Roteiro: MATT DILLON, BARRY GIFFORD
Elenco: MATT DILLON, JAMES CAAN, GÉRARD DEPARDIEU, KEM SEREYVUTH.
Duração: 116 min
