Afirmar que “À procura do amor” (“Enough said”, no original) é o melhor filme da diretora e roteirista Nicole Holofcener pode causar uma falsa expectativa. Isso porque os trabalhos anteriores dela, “Sentimento de culpa” e “Amigas com dinheiro”, eram medíocres crônicas do cotidiano de mulheres da classe alta americana. O que faz a diferença dessa vez é que a presença masculina cabe a James Gandolfini (que morreu de ataque do coração em junho deste ano, antes que o filme ficasse pronto), que está em ótima companhia. Ele e a atriz Julia Louis-Dreyfus conseguem logo de cara estabelecer uma empatia que conquista o espectador. Seus personagens, Albert e Eva, se conhecem em uma festa de gente rica em Los Angeles e descobrem que têm muitas coisas em comum: são recém-separados, estão carentes e as respectivas filhas em breve irão para a faculdade. Começam a namorar. Só que a ex-mulher de Albert é uma das clientes de Eva, que vive confortavelmente fazendo massagem a domicílio.
Como Nicole Holofcener não tem um pingo do talento de Woody Allen na hora de escrever, o que poderia render uma saborosa comédia de erros fica parecendo um filme adolescente protagonizado por marmanjos de 50 anos. Sabe aquela coisa de menina que está saindo escondida com o ex-namorado de sua amiga, e fica tentando arrancar confidências sobre os hábitos dele? Pois é, o conflito de “À procura do amor” é basicamente esse, mas se Eva se comportasse como adulta não haveria assunto para o filme. Tudo então se torna esquemático e previsível. A ex revela a Eva que Albert é desajeitado na cama? Haverá uma cena mostrando como ele é desajeitado na cama. Ele só sabe cozinhar macarrão com berinjela e mussarela? Haverá uma cena em que ele cozinha esse prato. Ele tem obsessão em separar a cebola na hora de comer guacamole? Haverá uma cena…isso até o fatídico momento em que a farsa obviamente é descoberta. Moral da história: devemos enxergar o alvo de nosso desejo pelo que ele representa para nós, e não da maneira como os outros o enxergam. Dureza, não?
De bônus negativo, ainda há uma tentativa canhestra de fazer piada com o estereótipo da empregada latina. Pelo conjunto da obra, a diretora deixa a impressão de ser uma dondoca fazendo filmes para dondocas, mas quem não tem nada a ver com esse universo terá alguns motivos a menos para se impacientar: Julia é expressiva e garante algumas risadas, enquanto Gandolfini parece tão natural como se nem estivesse interpretando. Ambos provam que bons atores conseguem salvar um texto fraquíssimo, e ainda contam com o luxuoso auxílio das coadjuvantes Catherine Keener e Toni Collette, além da revelação Tracey Fairaway no papel de filha de Eva.
(publicado originalmente no jornal O Globo)