Críticas


A IMAGEM QUE FALTA

De: RITHY PANH
20.02.2014
Por Carlos Alberto Mattos
A força de um depoimento nascido da experiência mais íntima e dolorida

Rithy Panh, o mais importante cineasta cambojano, volta ao tema do terror do Khmer Vermelho em A Imagem que Falta, concorrente ao Oscar de melhor filme estrangeiro. O assunto o assombra desde sempre, pois ele e sua família foram vítimas do regime de Pol Pot. Em S21 – A Máquina de Morte do Khmer Vermelho, ele rememorou, com a ajuda de carrascos e vítimas, a carnificina praticada num determinado campo de extermínio. Em Duch, le Maître des Forges de l'Enfer, retratou uma das mais altas patentes do genocídio. No total, Panh já fez pelo menos cinco filmes sobre a tragédia do Kampuchea. De todos, A IMAGEM QUE FALTA é o mais pessoal.

Narrado em primeira pessoa, apresenta imagens arrancadas da memória do próprio diretor, que testemunhou na infância os horrores dos campos de trabalho forçado e reeducação ideológica dos anos 1970. Para dividir conosco – e assim exorcisar – as imagens do que nunca foi filmado, ele usa bonecos toscos de barro (do artista Sarith Mang) na reconstituição da aldeia para onde foi enviado com seus pais, onde reinavam a fome, o sofrimento e a morte corriqueira. A isso combinam-se recursos diversos, como farto material de filmagens oficiais e até projeções sobre um prédio. O barro, porém, é o leit motiv, presente nos bonecos, na terra árida dos campos e nas covas para onde escoava o massacre de 1,8 milhão de pessoas.

De certa forma, este é o mais convencional dos docs do autor sobre o tema, pois fornece uma visão geral e ilustrativa dos fatos, sem ângulos novos em relação ao que já se conhece. A narração não disfarça o tom monocórdico, como num lamento. Ainda assim, o filme tem a força dos depoimentos nascidos da experiência mais íntima e dolorida. Ao mesmo tempo, passa uma reflexão interessante sobre o alcance e as limitações do que o cinema pode legar à História.

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