A preocupação com a construção de uma atmosfera refinada é uma característica marcante em O Jovem Adão, tentativa do diretor David Mackenzie de distanciar seu filme do lugar-comum das produções funcionais. No entanto, os esforços ficaram restritos ao plano formal, que encobre apenas até um determinado momento uma história e algumas personagens que carregam pouco de genuína especialidade.
Talvez só seja possível encontrar um valor específico na sensibilidade do cineasta em captar o frisson sexual existente entre Joe e Ella (a ponto de levá-la a trair o marido, Les) em cenas que não ficam limitadas ao preciosismo estético. Mas, ainda que os trabalhos de fotografia (de Giles Nuttgens) e trilha sonora (David Byrne) não caiam na gratuidade – expressando, até o final, nebulosidade e imprecisão em relação a Joe – , O Jovem Adão caminha em direção ao decorativo.
Por outro lado, é como se Joe não “sustentasse” a mise-en-scène criada ao redor dele. Se as outras personagens seguem numa linha mais evidentemente monocórdica – a amargura de Ella, a alienação de Les –, Joe expressa um desejo do Mackenzie roteirista de desenhar uma figura mais multifacetada. A tentativa de investimento numa equação “criativa” entre gentileza e perversão, porém, logo resulta numa simples indiferença do protagonista em relação a tudo e todos ao seu redor.
Dedicados em suas interpretações, Ewan McGregor, Tilda Swinton e Peter Mullan não conseguem fazer com que o espectador “leve” O Jovem Adão para casa. Resta acompanhar os dilemas de consciência de Joe, que, ao se isentar de responsabilidade diante de um fato do passado no qual teve alguma participação, acaba se tornando refém de si mesmo. Ao final, permanece apenas um suave aroma de mistério.
# O JOVEM ADÃO (Young Adam)
Direção: DAVID MACKENZIE
Roteiro: DAVID MACKENZIE, ALEXANDER TROCCHI
Elenco: EWAN MCGREGOR, TILDA SWINTON, PETER MULLAN
Duração: 98 minutos