Críticas


MOSTRA DE SP: AO PRIMEIRO SOPRO DE VENTO

De: FRANCO PIAVOLI
Com: PRIMO GABURRI, MARIELLA FABBRIS, IDA CARNEVALI
17.10.2003
Por Daniel Schenker
A NATUREZA DO TEMPO

Existe uma certa restrição ao termo experimental, utilizado para “definir” Ao Primeiro Sopro de Vento, filme em que o cineasta Franco Piavoli praticamente não utiliza o texto verbal. Mas a linha experimental diz respeito a trabalhos realizados por artistas que se lançam no escuro da criação, sem saber exatamente onde vão chegar, que investem numa pesquisa de linguagem e não em receitas pré-fabricadas. Ainda que Piavoli não cumpra totalmente a sua proposta, o filme segue a trilha do desconhecido. Não são muitos os que têm disposição para investir num projeto parecido.



É um trabalho dotado de especificidade que mescla diferentes camadas temporais. Ao adotar um tom contemplativo, distanciando-se da urgência habitual do aqui/agora, o filme reconcilia o espectador com o tempo natural próprio à observação do movimento do mundo. Faz a diferenciação entre o tecnológico e o atual, ainda que quase caia nesta armadilha ao destacar os sons dispersos da contemporaneidade, e mostra como o cinema pode ser um intermediador na retomada do contato do público com a natureza.



Prevalece, porém, o esgarçado tempo interno revelador da inexprimível dimensão solitária de personagens encasteladas dentro de si mesmas mas dotadas de uma luminosidade não inteiramente camuflada pela penumbra do recolhimento constante. Vislumbrando os espaços abertos por trás das grades das janelas, as personagens seriam, de algum modo, despertadas de um estado de torpor ao primeiro sopro de vento?



# AO PRIMEIRO SOPRO DE VENTO (Al Primo Soffio di Vento)

Itália, 2002

Direção e roteiro: FRANCO PIAVOLI

Elenco: PRIMO GABURRI, MARIELLA FABBRIS, IDA CARNEVALI

Duração: 90 minutos

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