Críticas


CASSETA E PLANETA: A TAÇA DO MUNDO É NOSSA!

De: LULA BUARQUE DE HOLLANDA
Com: CASSETA & PLANETA
28.11.2003
Por Carlos Alberto Mattos
DINHEIRO VELHO

O cinema brasileiro vive um impasse curioso: comemora grandes bilheterias e ocupação de mercado, ao mesmo tempo em que deplora a hegemonia avassaladora da máquina Globofilmes. A rigor, não é a primeira vez que um modelo dá as cartas, parecendo não deixar alternativa fora dele. Assim foi com a chanchada, a pornochanchada e, agora há pouco, com os filmes de violência social. A bola da vez são os subprodutos da tevê, como O Auto da Compadecida, Os Normais e A Taça É Nossa!.



A fórmula nunca foi tão simples. Basta repetir os ingredientes e jogar na tela grande. No caso de Casseta & Planeta, o verbo jogar é bem apropriado. A sucessão de gags dispensa qualquer tratamento cinematográfico, qualquer pretensão de ser algo além do que se vê na telinha. A baixa ambição parece proporcional à alta eficácia comercial. A ideologia do produto dita o ritmo acelerado, a funcionalidade estreita das cenas, um certo desleixo para com elementos “inúteis” como beleza, clima e sofisticação narrativa. O resultado fica, então, à mercê da qualidade das gags. Em Os Normais, elas até funcionavam a contento. Em A Taça É Nossa!, chega a ser aflitivo o nível de repetições e desperdícios, como as intermináveis piadas com as calcinhas de Maria Paula ou a participação mal aproveitada dos jogadores tri-campeões.



É uma heresia comparar a sátira setentista de Bussunda & Cia. com o humor do Monty Python, como tem sido feito. Mais adequado seria aproximá-la das paródias de gênero cometidas por Jerry Zucker, como Top Secret! e Apertem os Cintos – O Piloto Sumiu, onde a graça não advinha de uma visão anárquica da sociedade, mas fundava-se na hiper-redundância em relação aos hábitos do espectador. O que se está oferecendo ao público da tevê não é uma nova dimensão do conhecido, nem sequer um pouco mais de carne ou palavrões. É apenas o reencontro afobado e ansioso da Mesma Coisa, em tamanho maior e com o som mais alto.



Como as moedas do oportunismo têm validade limitada, é de se prever um rápido estiolamento dessa onda de sucesso. Talvez devamos mesmo passar por essa fase, como quem gasta atabalhoadamente as últimas reservas de dinheiro velho antes de uma grande reforma monetária. Só não podemos apostar os ovos do futuro nessa galinha marcada para a degola.



# CASSETA & PLANETA - A TAÇA É NOSSA!

Brasil, 2003

Direção: LULA BUARQUE DE HOLLANDA

Roteiro: CASSETA & PLANETA

Fotografia: ADRIANO GOLDMAN

Montagem: SÉRGIO MEKLER

Música: TOM CAPONE, LULA BUARQUE DE HOLLANDA, CASSETA & PLANETA, ANDRÉ MORAES

Elenco: BETO SILVA, BUSSUNDA, CLAUDIO MANOEL, HELIO DE LA PEÑA, HUBERT, MARCELO MADUREIRA, MARIA PAULA, REINALDO

Duração: 90 minutos

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