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O OCASO DA CINEFILIA?

18.07.2014
Por Marcelo Janot
Os melhores e mais premiados filmes não encontram espaço nem no circuito de arte

Houve um tempo, não muito distante, em que a estreia do grande vencedor do Festival de Berlim era aguardada com ansiedade pelos cinéfilos cariocas, não importando se o filme era turco, francês ou iraniano, ou se levava ou não a assinatura de algum diretor consagrado. Pois acaba de estrear no Rio a produção romena INSTINTO MATERNO, Urso de Ouro em Berlim 2013 (além de ganhador do Prêmio da Crítica). Em que circuito? Sala 1 do Estação Botafogo ou do Arteplex? Que nada. Três sessões diárias no minúsculo Cine Joia.

Se não fossem os bravos programadores do Joia, o filme sequer estrearia, assim como aconteceu com outros filmes que tinham tudo para serem vistos, discutidos e cultuados, mas que praticamente não passaram de uma semana em cartaz, como SOB A PELE, O CONGRESSO FUTURISTA e CÃES ERRANTES. O que está acontecendo com a cinefilia em nossa cidade? Como esperar que as distribuidoras continuem adquirindo os direitos de lançamentos de filmes com esse perfil se eles não são vistos por ninguém?

Isso significa que o que outrora se chamou de "circuito de arte" ande às moscas? Que nada. Passatempos de pouco valor artístico e cultural como O QUE OS HOMENS FALAM e CORAÇÃO DE LEÃO - O AMOR NÃO TEM TAMANHO são o tipo de filme que faz sucesso entre o público maduro quando eles não têm um Woody Allen para adicionar um pouquinho mais de erudição ao seu entretenimento.

Se INSTINTO MATERNO pena pra conseguir espaço no Joia e um ótimo filme de autor como FILHA DISTANTE, do argentino Carlos Sorín, fica relegado às salas menores do circuito Estação, a constrangedora comédia romântica belga BISTRÔ ROMANTIQUE (foto) merece lançamento de destaque. Não culpo os programadores. Deve haver, de fato, um público que se divirta com um amontoado de clichês e personagens estereotipados lavando a roupa suja de suas relações amorosas em meio a piadas absolutamente sem graça e situações forçadas no tal bistrô. Ah, mas imagens de deliciosos pratos de comida e a ausência da necessidade de se pensar ou compreender aquilo como Cinema vão de encontro ao que esse público quer.

Enquanto isso, para o que um dia se convencionou chamar de cinéfilos, vão restando cada vez menos opções no menu da tela grande. Há salvação?

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Outros comentários
    1668
  • j.blanco
    19.07.2014 às 13:55

    Deveriam ter mais destaque as divulgações tendo mais espaços em veículos de comunicação além de procurarmos também levantamento crítico sobre os filmes mas não dando suas opiniões e sim interpretando de uma forma a que se propõe o filme.
  • 1745
  • Antonio Carlos
    12.08.2014 às 12:26

    Aqui em Brasília acontece o mesmo ou pior. Aqui não chegaram Sobrevivente e nem Mercado de Notícia, por exemplo. Filmes com temática voltada para o público LGBT então são raríssimos.
  • 2454
  • Frederico Krueger
    05.09.2014 às 18:54

    Por esse motivo, infelizmente, temos que recorrer a vias "alternativas" para ter acesso a filmes independentes premiados lá fora como: Starred Up, Locke, Blue Ruin, Boyhood... O espetacular filme de ação indonésio The Raid (2011), que já está na sua sequência, sequer deu as caras por aqui, apesar de ter frequentado as listas de melhores do ano de vários críticos de fora do Brasil. Além do problema citado na matéria, me surpreende o excesso de filmes dublados. Fui procurar uma sessão de cinema para assistir Lucy e só havia legendada no horário comercial, impossível de assistir..