Críticas


COLD MOUNTAIN

De: ANTHONY MINGHELLA
Com: NICOLE KIDMAN, JUDE LAW, RENÉE ZELLWEGER, NATALIE PORTMAN
18.02.2004
Por Marcelo Janot
TALENTOS CONGELADOS

Ao assistir a um filme como Cold Mountain, não é difícil adivinhar o que vai acontecer com ele: a gente já sabe que a Academia vai lhe dar uma porção de indicações ao Oscar, que o crítico americano Roger Ebert vai fazer os maiores elogios e o grande público vai se emocionar com a história de amor e as lindas paisagens. Isso não o torna um bom filme. Especialmente porque Cold Mountain é tão previsível na tela como fora dela: desde o primeiro minuto a história se desenha, passo a passo, até o seu final.



O diretor e roteirista Anthony Minghella já deu provas de que sabe adaptar obras literárias. O Paciente Inglês e especialmente O Talentoso Ripley são ótimas transposições de best-sellers para o cinema – filmes populares ao mesmo tempo sofisticados, inteligentes e vibrantes. Nenhuma dessas características se aplica a Cold Mountain, que é nitidamente inspirado na trajetória do herói Ulisses da Odisséia, de Homero. A atmosfera que cerca o romance impossível entra Ada e Inman é fria como o gelo das montanhas do título, e isso se deve em parte aos diálogos que beiram o ridículo – “Come back to me as my request” (“Volte para mim é o que peço”) é tudo o que de mais “emocionante” Ada tem a dizer para seu amado na carta enviada a ele.



Outra parte da culpa pela frieza do romance é de Nicole Kidman, em uma de suas piores interpretações. Sua personagem passa por uma radical transformação ao longo do filme (o clichê jovem-da-cidade-que-perde-a-frescura-no-campo), mas isso só é notado pelo bronzear da pele e por ela empunhar uma espingarda no final. Quem assistiu a Dogville sabe muito bem de sua capacidade como atriz. Também clichê é a atuação de Renée Zellweger em outro papel óbvio: o de mulher brutalizada do campo, que serve de escada cômica para os protagonistas românticos. Algumas piadas até que funcionam. Mas ela precisava fazer tanto bico? A Academia, pelo visto, adora.



Anthony Minghella até que é bem sucedido na parte bélica do filme – as cenas de batalha no início são bem feitas e o roteiro consegue propor alguma reflexão sobre os ímpetos violentos do ser humano, algo bem vindo nos dias de hoje. Bom exemplo disso é o discurso antibelicista da personagem de Natalie Portman, pouco antes de ela estourar os miolos do soldado indefeso, em uma das melhores cenas do filme. Mas de resto o que Minghella faz é subestimar a capacidade de raciocínio do espectador com um enredo tão mastigado. Enquanto espera por seu amado, Ada tem uma visão dele refletida na água do poço da fazenda – o que se vê é um homem cambaleante e corvos revoando o local. Quando essa espécie de premonição se concretiza, no final do filme, fica óbvio que é uma referência à cena do poço, portanto Ada não precisava repetir, em palavras, o que o espectador já tinha percebido. O bom cinema prescinde de diálogos para explicar as imagens. Essa regra elementar Minghella já deveria conhecer de cor.



# COLD MOUNTAIN

EUA, 2003

Direção e Roteiro: ANTHONY MINGHELLA

Produção: SYDNEY POLLACK, WILLIAM HORBERG, ALBERT BERGER, RON YERXA

Fotografia: JOHN SEALE

Montagem: WALTER MURCH

Música: GABRIEL YARED

Elenco: NICOLE KIDMAN, JUDE LAW, RENÉE ZELLWEGER, NATALIE PORTMAN, PHILIP SEYMOUR HOFFMAN, RAY WINSTONE, DONALD SUTHERLAND, JENA MALONE

Duração: 150 min.

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