Críticas


UMA NOVA CHANCE PARA AMAR

De: ARIE POSIN
Com: ANNETTE BENING, ED HARRIS, ROBIN WILLIAMS.
18.09.2014
Por Luiz Fernando Gallego
Apesar do mau roteiro, Annette Bening mantém o interesse... até a cena final enterrar o filme de vez.

O tema da perda de uma pessoa amada - especialmente quando se trata de uma perda que não é elaborada satisfatoriamente após um período de luto emocional - vem desde a mitologia grega (Orfeu inconformado com a morte de Eurídice) até obras cinematográficas tão famosas como Vertigo (Um Corpo que cai), de Hitchchcock. Que pode ser visto como a melhor versão contemporânea de “Orfeu”, dentre tantas outras que aludiram mais explicitamente ao personagem, desde o filme de Jean Cocteau até o Orfeu do Carnaval, filmado a partir da peça de Vinicius de Moraes.

No caso deste Faces of Love (um título original cretino para o modo como foi desenvolvida a situação de base, talvez mais cretino do que o título nacional) temos uma mulher que parecia viver um ótimo casamento de muitos anos e que, depois da morte do marido, aparenta ter lidado "bem" com a perda - só que não. E isso fica manifesto quando ela dá de cara com um sujeito que é i-gual-zi-nho ao falecido. Pudera! Pois é vivido pelo mesmo Ed Harris! Por melhor que seja o ator, a presença do marido original ocupa poucos minutos de filme e não há como desenvolver duas personalidades com características diferentes, ainda que fisicamente sejam idênticos. Harris pode até se sair bem na composição do professor de arte que encanta a viúva por ser o falecido “esculpido e encarnado”. Mas é um tremendo erro de casting o uso do mesmo ator, sem que ao menos haja uma disfarçada na estampa de um dos dois personagens, por efeito digital que fosse. O diretor e co-roteirista Arie Posin fez essa opção intencionalmente, mas incorreu em tremendo equívoco que deixa o filme em péssimo ponto de partida para a situação evoluir dramaticamente.

O desenvolvimento do comportamento da viúva é bastante bizarro mas com aparência de algo natural, comum, banal - o que se coaduna com o sentimento que quer manter a personagem interpretada por Annette Bening - sem que seja absolutamente natural só encontrar uma “nova chance para amar” se se encontra um “duplo” de quem já morreu. Por incrível que pareça, a atriz consegue manter o interesse dessa bobagem mal concebida e mal desenvolvida: como ela tem estado em filmes de menor destaque, a gente esquece que tremenda atriz ela é. Mas há uma tomada de encerramento que enterra de vez o que já vinha muito mal parado, e aí... nem Annette segura a onda.

Melancólica a presença de Robin Williams em um personagem secundário, periférico e dispensável.

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