Críticas


A PEDRA DE PACIÊNCIA

De: ATIK RAHIMI
Com: GOLSHIFTEH FARAHANI, HASSINA BURGAN, MASSI MROVAT, HAMID DJAVADAN
15.10.2014
Por Luiz Fernando Gallego
O desempenho de Golshifteh Farahani atenua problemas do roteiro, mas não evita a decepção com o péssimo desfecho.

Também autor do livro "Syngue Sabour: Pedra de Paciência", o diretor Atik Rahimi contou com luxuosa ajuda de Jean-Claude Carrière na adaptação de seu romance para as telas. Não conhecendo o livro e seu desfecho, eu diria que pode ter havido excesso de fidelidade ao original, caso tenham preservado o péssimo final que, no filme, compromete definitivamente o que já vinha ficando insatisfatório na sua segunda metade.

A ideia inicial é ótima e sedutora: uma jovem mulher afegã ao lado de um marido imobilizado por uma bala na cabeça, mudo e sem reações, fala. Como em Persona, de Bergman, o silêncio de um personagem abre espaço para a fala da outra pessoa. No caso, de uma mulher que tem muito a dizer mas cujas ideias e angústias nunca seriam consideradas.

O título vem de uma lenda persa sobre uma pedra negra que acolhe dores e lamentos de quem lhe narra seus dissabores. O homem prostrado, mesmo sem reagir, pode ouvir sua esposa? O espectador pode - e escuta relatos estarrecedores sobre a condição feminina sob uma cultura absurdamente repressora, enquanto a cidade à volta é bombardeada regularmente. A infeliz mulher tem que cuidar das filhas pequenas, buscar abrigo, água, remédios e hesita em abandonar o marido inerte.

Aos poucos, os ressentimentos e a verdade sobre seu infeliz casamento (como parece que seriam todos dessa cultura) vão ficando cada vez mais intensos. E mesmo que as coisas sejam iguais ou piores do que escutamos sobre a condição feminina nestes lugares, o acúmulo de infelicidades em um só filme (aliado à coincidência da personagem central contar com uma tia que é um ponto totalmente fora da curva nos hábitos e costumes das mulheres de lá) começa a deixar o relato com aspecto proselitista, e o tom de propaganda feminista anti-islâmica, por mais pertinente que seja, pesa excessivamente, culminando no já mencionado final de feitio novelesco/grand-guignolesco.

A empatia da atriz Golshifteh Farahani, competentíssima em seus monólogos, e a fotografia caprichada de Thierry Arbogast (do recente Lucy e de muitos filmes de Luc Besson) ajudam a minimizar alguns problemas estruturais do enredo - mas não evitam a decepção após a boa premissa e ótima primeira metade do filme.

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