Críticas


ALGUÉM TEM QUE CEDER

De: NANCY MEYERS
Com: JACK NICHOLSON, DIANE KEATON, FRANCIS MCDORMAND, KEANU REEVES
31.03.2004
Por Ricardo Cota
FOREVER ELDER

Como no relacionamento a dois, a equipe do Críticos.com.br se pauta pela prática das concessões. Semanalmente, há uma disputa velada pelo melhor filme a criticar. Alguns são disputados a tapas; outros, não merecem sequer uma notinha de rodapé. Como vivemos em clima de união estável, a divisão é sempre conciliatória. Na linha do alguém tem que ceder, cedi e fui ver a comédia romântica protagonizada por Jack Nicholson e Diane Keaton. O que a gente não faz por amor.



Alguém tem que Ceder é um filme idiota, rebarbativo, previsível e interminável. Deprime ver atores da estatura de Keaton e Nicholson a serviço de um humor histriônico de quinta categoria. Tudo justificado única e exclusivamente por grana, aquela que refresca até pensamento. Mas quem disse que maus filmes não podem gerar boas reflexões?



Sob o disfarce do humor inocente, Alguém tem que Ceder, dirigido por Nancy Meyers (roteirista de O Pai da Noiva e diretora de Do que as Mulheres Gostam) esconde a condição de produto cultural pré-fabricado. Está na cara que o roteiro foi arrumado direitinho para o chamado público da terceira idade. Nicholson vive Harry Sanborn, um garanhão sessentão que exagera na dose ao tramar um fim de semana orgiástico com uma jovem bem mais nova. Na casa de praia, sofre um ataque do coração e é socorrido pela mãe da moça, a dramaturga Erica Barry, (Diane Keaton). É óbvio também que, após juras de ódio eterno, eles irão se apaixonar. A única ameaça à paixão é o cardiologista de Harry, interpretado, acredite-se, pelo emblemático ator gay Keanu Reeves, outro que também faz parte da turma do topa tudo. Assim fica fácil. Para eles.



Para nós a coisa é mais difícil. Ainda mais porque Alguém tem que Ceder vem embalado por uma série de artimanhas para deslocar a atenção do público. Erica e Harry não são novos velhos quaisquer. Ela passa temporada numa fabulosa casa nos Hamptons, onde entre um passeio e outro pela praia, entre uma visita e outra ao comércio francês, tenta escrever sua nova peça teatral. Ele, por sua vez, enfrenta o tédio de uma bem-sucedida vida de produtor musical de hip-hop entre os lençóis de uma e outra beldade com um terço da sua idade. É claro que vai acabar virando protagonista da peça de Erica.



Além de pretender atingir uma determinada fatia do público, com poder aquisitivo e crises amorosas decorrentes da idade, Alguém tem que Ceder projeta a nova imagem da velhice. Em determinada seqüência, Erica vislumbra um futuro negro ao ver duas senhoras fazendo compra no mesmo mercado. São velhinhas assumidas, nada mais démodé. Embora já tenha superado a fase forever young da efervescência das noitadas, da diversidade sexual e do mergulho nas drogas, o novo velho não deixa de ser um bom conservador que só pensa em arrumar um colo exclusivo para as trips noturnas de prozac e viagra. No fundo, o que o novo velho quer é continuar velho, só que por mais tempo. Forever elder. Será que vale a pena?



#ALGUÉM TEM QUE CEDER (Something´s Gotta Give)

EUA,2003

Direção e Roteiro:Nancy Meyers

ProduçãoBruce Block, Suzane Farwell, Nancy Meyers

FotografiaMichael Ballhaus

MontagemJoe Hustshing

MúsicaHans Zimmer

ElencoJack Nicholson, Diane Keaton, Francis McDormand, Keanu Reeves, Amanda Peet

Duração128 min.

Sitewww.somethingsgottagive.com

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