Críticas


RITOS DE PASSAGEM

De: CHICO LIBERATO
30.11.2014
Por Carlos Alberto Mattos
Graficamente, é uma das mais belas e inventivas animações já feitas no Brasil

Diga-se antes de mais nada: não deixe de comprar a lebre porque o crítico de um certo jornal carioca disse que era gato. Ritos de Passagem é uma animação espetacular, graficamente das mais belas e inventivas já feitas no Brasil. Espero que se candidate a algum prêmio no próximo Festival de Annecy.

Em seu segundo longa-metragem (o primeiro é o clássico Boi Aruá, de 1984), o artista visual baiano Chico Liberato se esmerou na articulação das mitologias brasileira e grega. Durante a travessia para o Reino dos Mortos na barca de Creonte, um Beato e um Justiceiro narram suas peripécias pelo sertão. Em princípio, seriam personificações de Deus e do Diabo, mas reza a dialética sertaneja que as coisas não sejam assim tão claras. Na verdade, eles são representações de duas formas de combater a injustiça e as desigualdades. O Beato Mateus, pela palavra, a união, o amor e o trabalho. Ele mistura características de Cristo e de Antonio Conselheiro. O Justiceiro, pela ação, a luta e a revanche. Ele é uma paráfrase do cangaceiro Lampeão. Cada qual suscita um tratamento específico nos desenhos, na palheta de cores e na iconografia mítica envolvida. Em comum, a exuberância cromática e gráfica do trabalho de Chico Liberato e sua equipe.

Ao mesmo tempo que conta muito bem as histórias paralelas dos dois líderes, o filme é uma sucessão ininterrupta de imagens cativantes, metamorfoses poéticas, explorações criativas da estética popular e sofisticadas estilizações de movimentos, sombras, silhuetas, etc. A faixa sonora acompanha o nível de qualidade, com diálogos cheios de sabor regional e uma trilha musical efusiva executada pela Orquestra Sinfônica da Bahia.

Liberato amadurecia esse projeto há quase 30 anos. Ele está com 78. O filme é um triunfo.

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Outros comentários
    3752
  • Ivan
    03.12.2014 às 21:35

    Orgulho do cinema brasileiro!