Críticas


ONDE ANDA VOCÊ?

De: SERGIO REZENDE
Com: JUCA DE OLIVEIRA, JOSÉ WILKER, JOSÉ DUMONT, REGIANE ALVES
23.04.2004
Por Daniel Schenker
DITO MAS NÃO ESCRITO

Onde Anda Você? evidencia a freqüente distância entre projeto e resultado. O filme que Sérgio Rezende aparentemente gostaria de ter feito seria muito importante num contexto tão sem utopia como o atual porque não estaria adotando uma postura conformista a partir da evidente constatação da passagem do tempo. Seria também um trabalho que mostraria que a chama interna dos desejos genuínos do homem reina acima de qualquer realidade desfavorável. O título coroaria a produção mesclando o sabor dos reencontros afetivos com um louvável redirecionamento de foco para aqueles que estão afastados dos holofotes da mídia. Tudo isto está “anunciado” em Onde Anda Você? . Mas o filme que bate na tela não traz (pelo menos, não em quantidades consideráveis) nem inocência, nem delicadeza, nem “a súbita beleza do silêncio”, definição encontrada para sintetizar uma involuntária performance de um rapaz no decorrer da projeção.



A história de Felício Barreto (Juca de Oliveira, em interpretação empenhada mas fora de tom nas passagens em que “incorpora” uma atuação clownesca), um palhaço das antigas que sente necessidade de retomar a carreira, abruptamente interrompida há 20 anos com o suicídio de seu parceiro de cena (José Wilker, aprisionado num registro vocal impessoal), espelha as transformações no terreno do humor, marcado pela total perda de refinamento. Para reencontrar a ingenuidade perdida, Felício não hesita em viajar até “o fim da picada” para travar contato com um lendário comediante, também esquecido, apelidado de Boca Pura. No entanto, os valores artísticos do passado defendidos pelo filme não são encontrados em diálogos escrachados, carentes de sutileza. É como se o dito não tivesse sido realmente escrito e nem materializado em imagens, com a realização contradizendo as anunciadas intenções.



Diante da dificuldade de implantar uma atmosfera, o roteirista Leopoldo Serran investiu em citações a uma variada galeria de artistas importantes (Charles Chaplin, Noel Rosa, Balzac, Flaubert, Oscarito, entre outros). Consegue trazer à lembrança “I Clowns”, de Federico Fellini. Mas não é o suficiente para salvar um filme que envereda pelo movediço terreno do pitoresco, tanto no que diz respeito à caracterização de personagens coadjuvantes quanto ao registrar a vida no interior do Brasil como uma espécie de “cor local”. Em todo caso, Onde Anda Você? pode ser visto com algum interesse diante de esforços de associação entre a trajetória ficcional de Felício Barreto e a do próprio Sérgio Rezende, que vivenciou o reconhecimento artístico com O Homem Da Capa-Preta (ainda seu melhor filme) e o comercial com Doida Demais e os grandiosos Mauá e Guerra De Canudos (elogiado por parte da crítica). Agora, ao mesmo tempo em que demonstra seguir um movimento de re-descoberta de um Brasil pouco divulgado(?) – aberto com o irregular Quase Nada , que também partia da cidade grande e migrava para os confins do país –, o diretor procura, aqui, investir numa abordagem mais palatável, seguir, sem esconder um certo desgaste, a vertente do filme de estrada e aderir a uma previsibilidade, em especial na parte final, talvez na intenção de estabelecer uma empatia ligeira com a platéia.



# ONDE ANDA VOCÊ?

Brasil, 2004

Direção: SÉRGIO REZENDE

Produção: MARIZA LEÃO

Roteiro: LEOPOLDO SERRAN, SÉRGIO REZENDE e MARCELO MADUREIRA

Fotografia: GUY GONÇALVES

Música: DAVID TYGEL

Direção De Arte: CLÓVIS BUENO

>b> Elenco: JUCA DE OLIVEIRA, JOSÉ WILKER, JOSÉ DUMONT, REGIANE ALVES, DRICA MORAES

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