Críticas


WHIPLASH: EM BUSCA DA PERFEIÇÃO

De: DAMIEN CHAZELLE
Com: MILES TELLER, J.K.SIMMONS, MELISSA BENOIST
06.01.2015
Por Gabriel Papaléo
Quase um elogio ao caos, muito contundente em sua aplicação exímia.

Já na primeira cena, Whiplash, primeiro longa de Damien Chazelle, introduz o que motiva o protagonista e o que será conflitante em sua jornada. O evocativo travelling se aproximando de Andrew tocando bateria indica a paixão e precisão obcecada dos momentos do jovem, o que traz logo à baila a intriga com a aparição do músico vivido com maestria por J.K. Simmons. A concisão do desenrolar dos fatos dá uma atmosfera inquietante para a vida de Andrew, que aprende como a paixão pela bateria pode ser destrutiva, mas valorosa.

Chazelle constrói o primeiro ato de forma semelhante ao coming of age, mas substituindo a ideia de relacionamento amoroso: o amadurecimento de Andrew é gradativo e conforme sua técnica instrumental vai se aprimorando. Não por acaso, o garoto só toma coragem de chamar o interesse romântico para sair assim que é chamado para integrar a banda que admira. Nesse sentido, o roteirista e diretor opta por uma relação muito mais poderosa, levando em conta a temática do filme: a alteridade que há na obsessão.

O acolhedor estúdio de música, fotografado quase em sépia, é apresentado em uma longa cena de gradativa tensão que demarca bem o início dessa alteridade em Andrew e Fletcher. O exagero na cobrança do professor causa espanto no protagonista, mas o uso dela como motor para melhorar mostra que há como enxergar identificação no que pode deteriorar a mente de um homem. Com o tempo, Andrew entende o esforço que é exigido para alcançar a genialidade, e o suor e a recompensa são vistos na bateria ensanguentada e no belo plano do gelo de sangue.

Seja nos esportes, na política ou na arte, a obsessão com uma ideia causa atrito comum em quem não compartilha da mesma. Aqui não é diferente: Andrew pergunta o que Nicole quer estudar e simplesmente não entende quando ela dá a entender que não se decidiu. Há sacrifício a ser feito em prol da ambição, e a maneira fria e distante que Andrew fala isso para a garota reforça uma espécie de abandono social feito pelo ideal.

A precisão do jazz é captada pela câmera de Chazelle com maestria, em planos-detalhe movidos por uma ágil e excepcional montagem que conduz os ensaios do filme como uma sinfonia furiosa, dando lastro para a forma na qual Andrew tremula a bandeira do que ama - e Miles Teller se expressa magistralmente com o misto de foco e ódio que o obcecado exala. O esquecimento e a motivação sobre o qual a dupla de músicos fala reconhece toda a falha que há no pessoal quando o profissional exige tanto, mas afirma, no visceral clímax, que o resultado do esforço deixa marcas irredutíveis nas pessoas e no mundo - sendo quase um elogio ao caos. Ainda que sem inovar em estrutura, o filme é muito contundente em sua aplicação exímia.



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