Críticas


KILL BILL: VOLUME 1

De: QUENTIN TARANTINO
Com: UMA THURMAN, LUCY LIU, DARRYL HANNAH, VIVICA FOX
03.05.2004
Por Marcelo Janot
QUE O SEGUNDO VOLUME O REDIMA

Como todo cinéfilo dedicado, Quentin Tarantino também é um crítico em potencial. Por isso resolveu dar uma forcinha aos analistas fílmicos e, antes que começassem a surgir as primeiras leituras e interpretações de sua nova obra, já tratou de dizer, no press-book distribuído à imprensa: “Para mim, existem dois mundos diferentes onde se passam meus filmes. Um deles é o ‘universo de Quentin’ de Pulp Fiction e de Jackie Brown - que é mais ou menos realista. O outro é o ‘mundo do cinema’. Quando os personagens do ‘universo de Quentin’ vão para os filmes, as coisas que eles vêem acontecem no ‘mundo do cinema’. Kill Bill é o primeiro filme que fiz que se passa no ‘mundo cinema’. Sou eu imaginando o que aconteceria se esse mundo realmente existisse”.



A análise sobre esse encontro do real com o imaginário é perfeita, e nos poupa muito trabalho. Tarantino enxerga com os olhos do crítico o que o crítico deveria enxergar com os olhos de Tarantino. O que sobra ao crítico, então, além de brincar de quiz cinematográfico tentando encontrar as mil e uma citações que Tarantino faz em Kill Bill? Muito pouco, como constatar o óbvio: que esse primeiro volume de Kill Bill é o mais fraco de seus filmes justamente porque, ao levar seus personagens reais para o “mundo do cinema”, o diretor esqueceu que o “mundo do cinema” é feito de histórias muitas vezes mais empolgantes e bem construídas do que as reais. Se a intenção era apresentar ao seu público o universo trash dos filmes de kung fu que tanto o fascinam, o ideal seria que a nova roupagem – em que Tarantino pôde exercitar bem seu lado de autor – viesse acompanhada de uma trama que ao menos chegasse aos pés das de seus filmes anteriores.



Talvez a culpa seja da decisão de dividir Kill Bill ao meio, em dois volumes. Sem termos visto o segundo, podemos dizer que ao volume um restou apenas o exercício estilístico, muitas vezes prejudicado pela longuíssima duração de certas cenas, como o enfadonho combate na Casa das Folhas Azuis. Sobra tempo demais pra tanto esguicho de sangue, tempo este que poderia ter sido preenchido por mais diálogos afiados e uma trama elaborada, duas marcas registradas do cinema de Tarantino.



No fim das contas, Kill Bill só poderá ser apreciado como um filme de pancadaria kung fu bem feito tecnicamente, com alguns lampejos de bom humor. Resta admirar a cumplicidade do diretor com suas atrizes, especialmente com Uma Thurman, que não consegue ser ofuscada nem mesmo pelo olhar felino de Lucy Liu e pelo fetichismo despertado pelo charme colegial de Chiaki Kuriyama. Elas valeriam o ingresso, que nesse caso lamentavelmente só vale por meio filme. É preferível aguardar o lançamento do segundo volume antes de continuar reclamando, mas tudo leva a crer que um único Kill Bill, mais enxuto, talvez fosse a melhor opção para o tão proclamado “4o filme de Quentin Tarantino”. O jeito, pelo visto, vai ser aguardar as seis versões em DVD que o diretor e a Miramax pretendem lançar, outro truque para faturar mais ainda.



# KILL BILL: VOLUME 1

EUA, 2003

Direção e Roteiro: QUENTIN TARANTINO

Produção: LAWRENCE BENDER E QUENTIN TARANTINO

Fotografia: ROBERT RICHARDSON

Montagem: SALLY MENKE

Música: ENNIO MORRICONE

Elenco: UMA THURMAN, LUCY LIU, DARRYL HANNAH, VIVICA FOX, SONNY CHIBA, CHIAKI KURIYAMA

Duração: 110 min

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