É natural na trajetória do cinema que alguns autores sejam subvalorizados e outros atinjam imerecida glorificação. Deste último conjunto, Tim Burton é um dos principais expoentes contemporâneos. Seus filmes geralmente amparados pela obviedade, ganharam aclamação crítica quase inédita entre os diretores de sua geração. Há dois anos, Burton compareceu com nada menos de duas obras em muitas listas dos melhores do ano.
Ao se ver Grandes Olhos, tem-se a impressão que Burton caiu na delação premiada, que se reconhece como um velho fraudador. O filme narra a história “real” de Margareth Keane (Amy Adams), celebrizada como pintora de crianças sofridas - que retratava com grandes olhos - e seu casamento com Walter (Christopher Waltz), um pintor de segunda linha que, com um grande poder persuasivo, convence as pessoas – inclusive a própria esposa – que as obras são de sua autoria.
Burton promove um círculo de confusões, uma sucessão de insólitos disse-me-disse, no melhor estilo das comédias brasileiras contemporâneas. A submissão da talentosa artista a seu marido dá-se, vejam só, por seu desejo de casar, para ter alguém com quem compartilhar o cuidado com sua filha.
A questão chega aos tribunais num julgamento que possivelmente não ficaria bem nem mesmo nas comédias que fazem a delícia das bilheterias brasileiras – e o constrangimento do mercado. Grandes Olhos encontrará lugar certo na Sessão da Tarde e será uma referência disso nos próximos vinte anos. E quem apostou em Burton como um diretor criativo, renovador, cheio de boas idéias, terá que encarar muitos filmes pela frente para aumentar um pouco mais o repertório antes de descobrir o próximo gênio.