Muitos brasileiros vão lembrar de Romero Britto enquanto assistem ao novo filme de Tim Burton. Embora de estilo diferente, a obra da pintora americana Margaret Keane, marcada pelos rostos com os olhos grandes que dão nome ao filme, fez muito sucesso entre celebridades e o público em geral, mas foi considerada pelos críticos como “kitsch” e sem valor artístico, assim como a do brasileiro radicado em Miami.
Um dos méritos de “Grandes olhos” é não julgar a qualidade da obra de Keane. Assim como na cinebiografia de Ed Wood, “o pior cineasta de todos os tempos”, Burton e os roteiristas Scott Alexander e Larry Karaszewski se concentram no lado pitoresco e singular da vida da pintora, com um olhar carinhoso sobre a personagem. Margaret era uma mulher insegura, ingênua, que se deixou seduzir pela lábia do farsante Walter Keane. Foi graças a ele, um prodígio na autopromoção, que os quadros com os olhos grandes se tornaram um fenômeno popular. Só que ele roubou para si a autoria das obras.
O roteiro explora muito bem a problemática do preço a ser pago por Margaret: será que sua obra seria conhecida sem Walter ao seu lado? Hoje, quando o trampolim para a fama é garantido por pageviews em sites de fofoca, a história dos Keane parece ficção. Mas impressiona ver como o embrião estava lá nos anos 50 e 60, uma época mais ingênua, onde ainda não se prestava muita atenção nos conceitos de direitos autorais, licenciamentos e “marketing de guerrilha”.
Fiel ao seu apreço por personagens solitários/incompreendidos, Burton investe menos na atmosfera fabular, mas não deixa de debochar do realismo em uma impagável cena de julgamento em tom de briga doméstica, com show solo de Christoph Waltz. No resto do filme, é Amy Adams quem brilha, comunicando muito do que sua personagem tem a dizer através da expressividade de seus grandes olhos.
