Críticas


FORÇA MAIOR

De: RUBEN ÖSTLUND
Com: JOHANNES BAH KUHNKE, LISA LOVEN KONGSLI
06.03.2015
Por Carlos Alberto Mattos
A avalanche como metáfora

Não se deixe impressiunar pela foto de filme-catástrofe. A avalanche que detona os acontecimentos de Força Maior deve ser tomada no sentido metafórico. Como a neve que se desloca em volume cada vez maior a partir de um deslizamento inicial, o deslize moral de Tomas precipita uma desestabilização não só do seu casamento, como da relação de um casal amigo e do projeto de férias de todos. Mais que isso, a partir de episódio aparentemente isolado coloca-se uma discussão mulitifacetada sobre a guerra dos gêneros, as expectativas reservadas ao comportamento do homem e da mulher e a eventual crueldade de quem se julga no direito de cobrar lisura moral dos outros.

Em pauta, ainda, a dificuldade dos personagens para destravar os sentimentos em palavras diante um do outro, característica que eu só não atribuo aos suecos porque Bergman exauriu esse tipo de diálogo em "Cenas de um Casamento".

Talvez o diretor e roteirista Ruben Östlund tenha esquematizado um pouco as soluções no ato final do filme, de maneira a relativizar culpas e restaurar laços de confiança. Ainda assim, restam um bom material para reflexão e algumas possibilidades em aberto. O ambiente da estação de esqui, somado à música de Vivaldi, cria uma moldura clara, gelada e perfeita para o quadro humano soturno, dolorido e cheio de arestas. A direção é minuciosa, o ritmo é dilatado e a dramaturgia está a milhares de milhas das fórmulas comuns de inspiração hollywoodiana. Só isso já é um convite.

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Outros comentários
    4081
  • dina moscovici
    10.03.2015 às 20:50

    eh verdade, a avalanche se passa dentro, não fora das personagens, tal como você, Carlos Alberto, coloca. Me atrevo a acrescentar breve comentário que publiquei na minha pagina do Facebook ..., Assim acontece - as coisa vão se acumulando de mansinho, silenciosamente -tudo parece tranquilo, sem sobressaltos - da ate para tirar umas ferias com a família, esquiar nos Alpes. A paisagem branca, gélida, se deixa deslisar indiferente ãs travessuras dos homens, tao diminutos frente ã sua grandeza. Ela impera soberana - não se sabendo existir, apenas esta para sempre. Eh apenas no homem que habita a angustia que corroê o próprio existir. As culpas acumuladas provocam uma avalanche aniquiladora frente ao algoz implacável, aquele de quem se esperava a maior solidariedade e que, ao contrario, esta ai vigilante para dar o golpe que obriga a confissão daquilo que se fez e, quem sabe, daquilo que não se fez. Possível que esta seja a Força Maior - o que se afirma despojando o outro de si mesmo em nome de uma moral que abriga o desamor. a