Não se deixe impressiunar pela foto de filme-catástrofe. A avalanche que detona os acontecimentos de Força Maior deve ser tomada no sentido metafórico. Como a neve que se desloca em volume cada vez maior a partir de um deslizamento inicial, o deslize moral de Tomas precipita uma desestabilização não só do seu casamento, como da relação de um casal amigo e do projeto de férias de todos. Mais que isso, a partir de episódio aparentemente isolado coloca-se uma discussão mulitifacetada sobre a guerra dos gêneros, as expectativas reservadas ao comportamento do homem e da mulher e a eventual crueldade de quem se julga no direito de cobrar lisura moral dos outros.
Em pauta, ainda, a dificuldade dos personagens para destravar os sentimentos em palavras diante um do outro, característica que eu só não atribuo aos suecos porque Bergman exauriu esse tipo de diálogo em "Cenas de um Casamento".
Talvez o diretor e roteirista Ruben Östlund tenha esquematizado um pouco as soluções no ato final do filme, de maneira a relativizar culpas e restaurar laços de confiança. Ainda assim, restam um bom material para reflexão e algumas possibilidades em aberto. O ambiente da estação de esqui, somado à música de Vivaldi, cria uma moldura clara, gelada e perfeita para o quadro humano soturno, dolorido e cheio de arestas. A direção é minuciosa, o ritmo é dilatado e a dramaturgia está a milhares de milhas das fórmulas comuns de inspiração hollywoodiana. Só isso já é um convite.