Críticas


BLIND

De: ESKIL VOGT
Com: ELLEN DORRIT PETERSEN, HENRIK RAFAELSEN, MARIUS KOLBENSTVEDT
19.03.2015
Por Marcelo Janot
Explora com ternura e sensibilidade as possibilidades que o enredo oferece

Personagens escritores que embaralham a narrativa inserindo uma ficção dentro da realidade ficcional do filme não são novidade no cinema. Mas poucas vezes tal recurso foi utilizado tendo um cego como protagonista. Esse é um dos motivos que torna a produção norueguesa “Blind” tão especial.

Ingrid (Ellen Dorrit Petersen), a narradora, acabou de perder a visão irreversivelmente em virtude de uma doença genética. Casada e desejando um filho, ela compartilha com o espectador sua inquietude com a chegada a esse novo mundo. As observações do diretor e roteirista Eskil Vogt sobre situações corriqueiras do cotidiano de um deficiente visual, que muitas vezes passam despercebidas por nós que enxergamos (como a dificuldade para se limpar um molho derramado no chão da cozinha), se somam ao estudo de uma personalidade afetada profundamente pelas angústias e incertezas com a nova condição.

O roteiro, premiado no Sundance, explora com ternura e sensibilidade as possibilidades que o enredo oferece, intercalando momentos bem humorados com outros de amargura. Ao confinar Ingrid dentro de um apartamento passando o dia escrevendo em seu computador, Vogt nos conecta com um universo povoado por outros personagens cuja solidão é reflexo do ambiente social, e não de algum tipo de deficiência. Ao invés de se refugiar na ficção que cria, Ingrid a utiliza para dar vazão a seus instintos de manipulação e vingança, fazendo disto parte de um processo de auto análise que servirá de preparação para a nova vida. Torcemos por ela. E também para que o cinema continue investindo em formas menos óbvias de narrar uma história.

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