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FESTIVAL DO RIO 2004: UM GUIA CRÍTICO

24.09.2004
Por Marcelo Janot
FESTIVAL DO RIO 2004: UM GUIA CRÍTICO

A parte mais difícil do Festival do Rio – além de enfrentar uma fila quilométrica na central de ingressos – é selecionar o que assistir entre tantas opções e tão pouco tempo. Como todo ano, a equipe de Críticos.com.br já está a postos para tentar ajudar o leitor nesta tarefa árdua. Na primeira página do site você encontrará todas as críticas que escreveremos dos filmes do Festival. A idéia é a cada dia acrescentarmos novos filmes, à medida em que formos assistindo. E aqui abaixo vai minha modesta contribuição: um pequeno guia do que privilegiar, levando em consideração uma série de fatores.



Bom festival!



Marcelo Janot

janot@criticos.com.br




Primeiro repito as duas dicas básicas que dei ano passado:



1 - Ao consultar a programação do Festival, observe se o filme que você pretende ver está legendado ou tem legendas eletrônicas. Se a cópia já está legendada, significa que ele foi comprado por alguma distribuidora brasileira e deve ser lançado comercialmente. Às vezes entra em cartaz logo após o fim do evento, às vezes pode demorar quase um ano. Para quem tem paciência, vale a pena esperar e ocupar seu tempo com os filmes com legenda eletrônica, que poderão ficar inéditos comercialmente para sempre. O mesmo vale para os filmes nacionais da seção Première Brasil (com exceção dos curtas, é claro).



2 – Fique atento à duração dos filmes. Caso você vá assistir vários filmes no mesmo dia, em diferentes cinemas, dê um intervalo razoável entre eles, porque é comum sessões atrasarem ou serem interrompidas no meio por problemas com a legendagem.



Agora, o que, na minha opinião, vale a pena dar preferência em cada seção:



PANORAMA

Será que a sua ansiedade para ver Kill Bill Vol. 2 ou o novo filme do Almodóvar (Má Educação) é tão grande assim que você não pode esperar apenas algumas semaninhas para ver esse filmes no circuito normal, sem aperto e sem precisar ficar horas na fila pra conseguir um bom lugar? Então esqueça esses e outros títulos badalados, como Hero, de Zhang Yimou, que também vai estrear. O vencedor do Festival de Berlim, Contra a Parede, apesar de estar sendo exibido com legendas eletrônicas, é outro que tem lançamento assegurado no circuito.



O que eu privilegiaria:

- Depois de um período de entressafra meio brabo, o cinema francês volta a honrar a tradição: Comme Une Image, de Agnés Jaoui (melhor roteiro em Cannes), A História de Marie e Julien (que traz o diretor Jacques Rivette em grande forma, com uma intrincada história de fantasmas), Um Lugar Entre Os Vivos, do sempre instigante Raul Ruiz, são boas pedidas. Isso sem falar do novo Godard, Nossa Música, eleito pela FIPRESCI (Federação Internacional de Críticos) o melhor filme do ano. Mas esse último já tem distribuição garantida.

- Se Hero já está comprado, não tenho a mesma certeza em relação a House of Flying Daggers, o novíssimo filme de Zhang Yimou.

- A Noiva Síria - esse filme do diretor israelense Eran Riklis está longe de ser uma obra-prima, mas tem muitas qualidades, tanto que no último festival de Montreal levou todos os 4 prêmios de melhor filme: júri oficial, júri da crítica, júri popular e júri ecumênico. Curioso como a história é muito parecida com a de Sob O Céu do Líbano, vencedor do Grande Prêmio do Júri em Veneza ano passado, e que também é um bom filme, mas já foi comprado.

- Os japoneses Ninguém Pode Saber (prêmio de melhor ator em Cannes) e Água-Viva.

- 9 canções, de Michael Winterbottom (o mesmo diretor de A Festa Nunca Termina, tem pinta de cult (o que significa que pode ser uma porcaria, mas eu arriscaria)

- Getting The Man´s Foot Outta Your Baadassss!, de Mario Van Peebles

- A Vida é Um Milagre, de Emir Kusturica

- A Face Oculta da Lua, de Robert Lepage

- Zatoichi, de Takeshi Kitano

- O Intruso, de Clair Denis

- Os filmes iranianos, como Tradição de Matar Amante, Borboleta ao Vento e Onde O Rio Termina, costumam ser sempre uma boa pedida



BOLLYWOOD

São oito exemplares dos mais de 800 títulos produzidos por ano, em escala industrial, na Índia. O detalhe é que o mais curto deles, Deewaar, tem duração de 165 minutos.



O que eu privilegiaria:

Qualquer um aqui é um risco de perder tempo precioso, já que os filmes são longuíssimos. Mas vale a pena ver um que seja, ao menos para tentar entender porque os indianos prestigiam tanto o cinema local.



O BONEQUINHO VIU

Filmes exibidos de graça numa tela gigantesca montada na areia, em frente ao Hotel Copacana Palace.



O que eu privilegiaria:

- Exibirá filmes da mostra de Ficção Científica. Blade Runner e O Planeta dos Macacos parecem ser ótimas pedidas para assistir na areia.



EXPECTATIVA

Dedicada a filmes de novos cineastas, é a seção mais difícil de decidir o que escolher, porque muitos são verdadeiras incógnitas. O negócio é arriscar mesmo.



O que eu privilegiaria:

Como The Edukators, que está sendo bem comentado, já foi comprado, eu privilegiaria o documentário Olga Benario: Uma Vida Pela Revolução. Não perca tempo com os fracos O Papel de Sua Vida e Shouf! Shouf! Habibi.



FICÇÃO CIENTÍFICA

Muitos destes títulos estão disponíveis em DVD ou VHS, e a projeção do MAM e suas cadeiras barulhentas nem sempre ajudam.



O que eu privilegiaria:

As sessões de meia-noite no Odeon de episódios de antigas séries de TV, como Perdidos no Espaço, Terra de Gigantes, Túnel do Tempo e Viagem ao Fundo do Mar. A sessão de Barbarella também tem tudo pra ser um acontecimento.



FOCO ÁFRICA DO SUL

Ampla retrospectiva de uma cinematografia sem muita tradição, a sul-africana. Mas certamente há coisas boas entre os títulos selecionados



O que eu privilegiaria:

- Os Deserdados, de Zoltan Korda (Urso de Prata em Berlim – 1951)

- O documentário clássico Levante, África, de Lionel Rogosin.

- Yizo Yizo, o único dos três que será exibido com legendagem eletrônica.





LIMITES E FRONTEIRAS – IMAGENS DA PALESTINA

Boa oportunidade de olhar para a Palestina sem o filtro da CNN, entre outros temas sociais contemporâneos.



O que eu privilegiaria:

- Central Al Jazeera

- Sobre Bagdá

- Farmingville



MIDNIGHT MOVIES

Filmes que, por diversas razões, têm vocação (ou pretensão) para se tornarem cults. Quase nenhum entrará em cartaz, portanto, aproveite



O que eu privilegiaria:

- O Coração é Traiçoeiro Acima de Todas as Coisas, de Asia Argento

- Anatomia do Inferno, de Catherine Breillat



MUNDO GAY

Filmes de temática gay e estilos diversos. Fuja de Vereda Tropical, um dos piores filmes do evento.



O que eu privilegiaria:

- Cachorro (melhor filme europeu no Festival de Montreal)



PETER DAVIS

Retrospectiva da obra do importante documentarista americano



O que eu privilegiaria:

- Corações e Mentes



PREMIÈRE BRASIL

Reúne títulos ainda inéditos comercialmente, divididos em mostra competitiva de ficção, documentário e curtas, hors-concours, retratos (documentários biográficos). Quase todos devem entrar em cartaz (sabe-se lá quando, porém), com exceção dos curtas.



O que eu privilegiaria:

- A Pessoa É Para o Que Nasce - O documentário de Roberto Berliner é tão bom que não dá pra esperar entrar em cartaz. Veja logo!

- Curtas (Programas 1 e 2 e Thomas Farkas, Brasileiro, de Walter Lima Jr.



PREMIÈRE LATINA

A produção latina continua crescendo. Esse ano, por exemplo, temos três filmes do Peru, além de pelo menos dois grandes: a obra-prima cubana Suite Havana, de Fernando Perez, e o filme uruguaio Whisky, este uma espécie de Encontros e Desencontros latino, mas que não entra na minha lista de filmes a privilegiar porque já tem estréia garantida no circuito. Evite Perder Es Cuestion de Metodo, o pior filme do bom diretor colombiano Sergio Cabrera.



O que eu privilegiaria:

- Suite Havana

- Somas e Diferenças - O diretor colombiano Victor Gaviria é o mesmo que fez o impactante Vendedora de Rosas

- Maria Cheia de Graça - É sucesso por onde passa.

- Ainda que Você Esteja Longe, de Juan Carlos Tabío

- Salvador Allende, de Patricio Guzman



SERGIO LEONE

Retrospectiva da obra do gênio do cinema italiano. Quase todos os filmes estão disponíveis em DVD, e o que é melhor, a preços promocionais em diversas lojas. Mas assistir a Era Uma Vez No Oeste e Era Uma Vez Na América na tela grande, dois dos melhores filmes de todos os tempos, não tem preço.

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