Críticas


JAUJA

De: LISANDRO ALONSO
Com: VIGGO MORTENSEN, VIILBJØRK MALLING AGGER, ESTEBAN BIGLIARDI
10.07.2015
Por Carlos Alberto Mattos
Sonambulismo entre a Patagônia e a Escandinávia

Jauja, do argentino Lisandro Alonso, estreia no Rio esta semana. Esse é mais um caso em que me distancio de boa parte dos meus colegas críticos no que diz respeito ao culto a um diretor. Jauja ganhou um prêmio da crítica na mostra Un Certain Regard de Cannes e tem sido festejado como mais uma obra de ponta do cinema autoral contemporâneo. No recente Cine Ceará levou o prêmio de melhor direção enquanto Lisandro demonstrava arrogância no trato com a plateia e ironizava “os brasileiros” que não conseguiam acompanhar seu castelhano veloz. A coprodução tem participação brasileira, mas sem reflexos na equipe técnica e artística.

É o terceiro filme de Alonso que vejo e o que mais me desapontou. A “história” se passa em fins do século XIX, quando um capitão engenheiro dinamarquês (Viggo Mortensen, sempre um bom ator) se desloca em missão para a Patagônia argentina levando sua filha adolescente. A jovem se enamora de um soldado argentino e foge com ele. O pai parte à sua procura, enquanto um oficial aparentemente enlouquecido comete atos bárbaros nos pampas.

Contado assim, Jauja pode até parecer atraente, mas na tela é apenas um filme sonambúlico, com ações e diálogos em extenuante tempo dilatado e um distanciamento que me soou simplesmente pretensioso. O contexto histórico (colonização da Argentina, massacre de indígenas) vira uma pálida referência em enredo que se pretende mítico. O desaparecimento da menina leva o pai a entrar numa suposta terra mágica – Jauja, paraíso da abundância na mitologia hispânica, mas também uma metáfora do deserto que a tudo devora. No trajeto, ele acaba por fazer um misterioso salto no tempo, encenado, a meu ver, de maneira patética.

Mais desconcertante do que a deambulação sem pé nem cabeça do capitão é o epílogo do filme, num castelo da Dinamarca em tempos atuais, abrindo a hipótese de um sonho ou um delírio resnaisiano. Mas o caráter arbitrário dessa solução, como de tudo o mais, afasta os melhores paralelos que poderíamos fazer.

O filme tem sido elogiado também pela beleza das imagens, filmadas, como dita a moda, em tela quadrada e, nesse caso, com cantos arredondados como numa TV antiga. Mesmo aí, tenho minhas reservas. Cada tomada, sempre fixa, apresenta ostensivamente um trecho de paisagem dos pampas, de formações rochosas e litorais dramáticos. A partir de certa altura, eu tive a sensação de estar assistindo a um estudo de locações para um filme que, afinal, não chegou a ser feito.

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