Críticas


CÓDIGO 46

De: MICHAEL WINTERBOTTOM
Com: TIM ROBBINS, SAMANTHA MORTON, OM PURI, JEANNE BALIBAR
24.12.2004
Por Carlos Alberto Mattos
FUTURISMO FETICHISTA

No admirável mundo novo de Código 46, grandes cidades orientais tornaram-se redutos sitiados, o conhecimento circula através de vírus, a memória é passível de manipulação virtual, a reprodução é controlada pela correção genética, as etnias se misturaram nas características físicas e na linguagem. E, entre as mulheres, a depilação radical parece ter vindo para ficar. É aí que o galalau Tim Robbins e a tampinha Samantha Morton vivem uma complicada aventura de amor proibido e crimes encobertos que desafia até os espectadores mais atentos.



Michael Winterbottom filma com um olho nos anos 1960 (Godard não é totalmente estranho) e outro nas fantasias paranóicas contemporâneas sobre controle social. O clima é sugestivo, a linguagem é sedutora, mas as qualidades do filme não vão muito além dessa superfície lustrosa. Quem se distrair no início demorará a perceber que já acabaram os comerciais e começou o filme, tal o empenho fetichista do estilo. O clímax de tudo isso vem na seqüência em que Samantha faz amor com a câmera, uma bela cena em que a frase “Eu te amo” ecoa o refrão libertador de Anna Karina em Alphaville.



Xangai e Hong Kong, enquadradas espertamente e com alguns prédios acrescentados em computador, são locações prontas para esse futurismo mais enunciado que propriamente encenado. A linguagem é um vírus, já disse William S. Burroughs. Winterbottom e seu habitual roteirista Frank Cottrell Boyce usam a fala (e sua porção não dita, o pensamento) como “cenografia” principal e como senha de acesso para os sucessivos desdobramentos da relação entre as personagens. A trilha sonora, também envolvente, contribui para anestesiar as exigências de um argumento mais consistente e menos dependente do charme da direção.





# CÓDIGO 46 (Code 46)

Inglaterra, 2003

Direção: MICHAEL WINTERBOTTOM

Roteiro: FRANK COTTRELL BOYCE

Fotografia: ALWIN H. KUCHLER, MARCEL ZYSKIND

Montagem: PETER CHRISTELIS

Música original: JOSHUA HYAMS, MARK REVEL

Desenho de produção: MARK TILDESLEY

Elenco: TIM ROBBINS, SAMANTHA MORTON, OM PURI, JEANNE BALIBAR

Duração: 90 min.

Site oficial: clique aqui

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