Críticas


COMO FAZER UM FILME DE AMOR

De: JOSÉ ROBERTO TORERO
Com: DENISE FRAGA, CASSIO GABUS MENDES, MARISA ORTH
28.10.2004
Por Carlos Alberto Mattos
COMO CAIR NA PRÓPRIA ARMADILHA

José Roberto Torero é um grande talento na criação de comédias metalingüísticas e um fino cultor da crueldade como princípio de criação. Mas seu primeiro longa-metragem como diretor é uma amostra de que o talento às vezes pode levar seu dono a cair em armadilhas.



Como diz claramente o título, Como Fazer um Filme de Amor é um manual ironicamente didático sobre os lugares-comuns desse gênero cinematográfico. Nele assistimos desde a escolha das personagens ideais até a copidescagem de diálogos e músicas, passando pela angústia do roteirista em equacionar o rumo e o ritmo de sua trama. O maior desafio é expulsar de cena a crueza da realidade para dar lugar à idealização romântica. Tudo isso guiado por um narrador invisível, uma espécie de voz de Deus adequadamente emprestada por Paulo José.



Para tamanha falta de novidade, até que o filme diverte ocasionalmente. Mas é pouco para sustentar o interesse durante quase 90 minutos de paródia a clichês já cansados de tanto apanhar. Torero refere-se a um cinema que não mais existe como se ele estivesse ali na porta, esperando por seus tapas. Imagina também um espectador ingênuo que ainda precisa ser alertado sobre o ilusionismo das tramas românticas. Ao mesmo tempo, espera oferecer a esse mesmo espectador uma alternativa “criticada” de diversão fantasiosa. A brincadeira é feita com tanta intencionalidade e tão pouca sutileza que soa como um projeto de estudante ávido por “dissecar” as artimanhas do seu métier. No fim das contas, o saldo é difícil: eu, pelo menos, me senti mais indisposto com a mediocridade do objeto parodiado do que recompensado pelo olhar crítico do autor.



É bem sabido que o cineasta Torero não tem demonstrado a mesma verve do roteirista Torero. Nos seus curtas, as duas habilidades se harmonizam melhor quando o filme se organiza em quadros estanques, privilegiando os valores verbais. No longa, com uma demanda maior de mobilidade e produção, essa defasagem fica ainda mais evidente. A concepção e realização das cenas só raramente descolam de um patamar simplório e televisivo, ou até mesmo desengonçado, como na seqüência promissora da serenata coletiva.



A armadilha de Torero foi confiar excessivamente no poder da sátira pela sátira, achando que, para fazer um filme de humor, bastava seguir a receita mais óbvia. Não dar a volta por cima com uma idéia realmente deflagradora ou surpreendente foi o seu maior pecado (para usar um clichê que bem poderia figurar em sua apostila).



# COMO FAZER UM FILME DE AMOR

Brasil, 2004

Direção: JOSÉ ROBERTO TORERO

Roteiro: JOSÉ ROBERTO TORERO, LUIZ MOURA

Produção executiva: ZITA CARVALHOSA

Fotografia: KÁTIA COELHO

Direção de arte: BILLY CASTILHO, ADRIANO FARIA

Montagem: VANIA DEBS

Música: MÁRIO MANGA

Edição de som: EDUARDO SANTOS MENDES, JOÃO GODOY

Elenco: DENISE FRAGA, CASSIO GABUS MENDES, MARISA ORTH, ANDRÉ ABUJAMRA, ANA LUCIA TORRE

Narração: PAULO JOSÉ

Duração: 84 minutos

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