Críticas


PARA SEMPRE LILYA

De: LUKAS MOODYSSON
Com: OKSANA AKINSHINA, ARTYOM BOGUCHARSKY, PAVEL PONOMARYOV
19.01.2005
Por Daniel Schenker
APOSTANDO NA COMOÇÃO DO ESPECTADOR

Depois de destacar relacionamentos familiares solidários em Amigas De Colégio e Bem-Vindos , o cineasta Lukas Moodysson decidiu mostrar o outro lado da moeda em Um Vazio Em Meu Coração e Para Sempre Lilya , produção de 2002 finalmente lançada em circuito comercial. A adolescente Lilya que intitula o filme é abandonada pela mãe, expulsa de casa pela tia, traída pela melhor amiga, violentada pelos vizinhos e maquiavelicamente seduzida pelo namorado. Moodysson mostra que sua protagonista não se encontra completamente sozinha no mundo devido à amizade do pequeno Volodya, com quem firma uma parceria que evoca, à distância, a desolada jornada dos dois irmãos no belíssimo Paisagem Na Neblina , de Theo Angelopoulos.



No entanto, Lilya está mais acompanhada do que pensa. Afinal, é pouco provável que o público deixe de adotá-la ao testemunhar sua via-crucis. Mais do que isto, o diretor parece ambicionar uma espécie de identificação entre Lilya e o espectador. Este objetivo é explicitado na seqüência em que a moça, forçada a trabalhar como prostituta, mantém relações sexuais, sem, porém, que seja mostrado seu rosto. Restam os corpos dos clientes “sobre” a platéia, neste momento posicionada no lugar de Lilya. Dificilmente Lukas Moodysson deixaria de extrair reações contundentes da execução deste mecanismo. Como não ficar do lado de Lilya após “experimentar” um lugar tão insuportável quanto o do impedimento de exercer minimamente o próprio livre arbítrio?



Os sinais visíveis de manipulação emocional do espectador evidenciam um Moodysson disposto a se valer de recursos exteriorizados e, portanto, mais distante “do seu elemento” do que nos excepcionais Amigas De Colégio e Bem-Vindos . Falta ainda encontrar na abordagem da absoluta ruína da estrutura familiar – captada, de formas diversas, em Para Sempre Lilya e Um Vazio Em Meu Coração , mais desagradável do que propriamente ruim – a “mesma” organicidade presente nos trabalhos centrados na cumplicidade afetiva realizados por este diretor extremamente importante no cenário cinematográfico contemporâneo que, não por acaso, recebeu elogios de Ingmar Bergman.



Reforçando tendências abordadas em filmes de outros cineastas, Para Sempre Lilya mostra a dificuldade de superar a segregação imposta pela família e destaca a maldade do mundo em detrimento da crença de que os acontecimentos concretos têm pouca importância em relação à subjetividade de cada pessoa. Esta perspectiva é realçada no próprio desenho de Lilya como uma moça que não demonstra tanta ilusão frente às adversidades de seu percurso mas sucumbe devido à ausência de defensores. O público está impotente diante do provável desejo de atravessar a tela para apoiá-la.







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