Críticas


SE DEUS VIER QUE VENHA ARMADO

De: LUÍS DANTAS
Com: VINICIUS DE OLIVEIRA, SARA ANTUNES, ARICLENES BARROSO
13.11.2015
Por Luiz Fernando Gallego
O filme traz uma pegada própria na abordagem de personagens da periferia.

Com uma pegada própria na abordagem de personagens da periferia, sejam eles um pequeno marginal, um trabalhador evangélico ou um policial novato, Se Deus vier que venha armado é a estreia na direção do fotojornalista Luís Dantas, com roteiro do próprio diretor (e de Beatriz Gonçalves) originado de uma tese de doutorado de Dantas.

Em cenas curtas, os personagens são mostrados em ações concomitantes, seguindo-se o desenrolar das situações que eles co-protagonizam. O foco central recai sobre ‘Damião’ vivido por Vinicius de Oliveira (que na infância foi o garoto ‘Josué’ de Central do Brasil), no que nos pareceu sua melhor interpretação adulta. Ingressando na Polícia Militar, o bandolinista ‘Jeferson’ (Leonardo Santiago) vai ter seu batismo de fogo sob as ordens de um sargento invocado da PM (Giulio Lopes). A tomada circular em que o calouro é deixado de pé numa região favelada na qual um PM é uma figura indesejada (e os da região soam estranhos para um rapaz que mora em lugar não muito diferente daquele) dá bem a tônica do filme.

Vão se somar uma aspirante a atriz que colabora com um grupo teatral da comunidade, ‘Cléo’ (Sara Antunes) e um dos membros deste grupo, ‘Palito’ (Ariclenes Barroso) - além do irmão de ‘Damião’, um mecânico que está com casamento marcado. O elenco de atores funciona muito bem, com destaque para Ariclenes Barroso.

Mantendo a atenção do espectador durante toda a projeção, o filme conta com fotografia (premiada no Festival do Ceará) de Hélcio Alemão Nagamine e ótima trilha musical, sendo que as composições originais são de Zé Godói. Não vale a pena adiantar muita coisa sobre o enredo que tem um ponto mais fraco na personagem feminina, embora alguma coisa seja superada pela química entre a atriz e os atores que fazem os dois amigos, Palito e Damião (especialmente entre Sara e Vinicius que formam um casal na vida real desde as filmagens).

A maior qualidade de Se Deus vier que venha armado está na alternativa para o que já foi chamado (pejorativamente) de “favela movie”, retratando situações plausíveis sem maior espetaculosidade – pelo menos até o seu desfecho, ainda assim, elíptico em imagens. Há traços de antigas situações de filmes “noir” que, entretanto, parecem surgir da nossa realidade e não do mundo ficcional. Mesmo o tom melodramático da origem de Damião, uma mãe biológica que ele não conheceu – outro ponto menos satisfatório do roteiro – não chega a nublar os pontos fortes deste bom momento do cinema brasileiro.

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Outros comentários
    4214
  • IVAN
    18.11.2015 às 05:37

    Realmente, um grande filme que honra a nossa cinematografia!