Críticas


O CHEIRO DA GENTE

De: LARRY CLARK
Com: LUKAS IONESCO, DIANE ROUXEL, THEO CHOLBI
03.12.2015
Por Leonardo Luiz Ferreira
Há cenas potentes aqui e ali, mas a dramaturgia apresenta problemas.

Não dá para negar que o cineasta norte-americano Larry Clark, também conhecido pelo trabalho como fotógrafo, construiu uma obra autoral repleta de obsessões que passeiam por toda a sua filmografia. Questionar sobre a eficácia da realização é o ponto, mas nunca deixar de valorizar que ele se mantém fiel a uma proposta de cinema, mesmo que já não tenha hoje o prestígio que ostentou nos anos 90 quando explodiu nas telas do mundo com Kids (1995). E é exatamente a partir de seu longa de estreia que O Cheiro da Gente vai se articular na tela: só muda o cenário, agora Paris, mas os personagens continuam os mesmos, a juventude rebelde, que cria suas próprias leis.

O Cheiro da Gente, como o próprio título sugere, é um filme de secreções e excreções, que pululam na tela nas mais diferentes formas. Um jovem para entrar numa festa entrega uma camisinha com sêmen; um adulto aborda meninos tentando sentir a essência do corpo de cada um; e um mendigo é flagrado dormindo, mas o plano-detalhe focaliza a sua urina e baba. A câmera de Clark busca a epiderme dos personagens, como se quisesse produzir uma sensação olfativa ao espectador. É o filme em que Larry faz mais experimentações com o vídeo: há um jovem com uma câmera de celular que registra toda a ação de um grupo de skatistas e que para sobreviver e ostentar decide se prostituir. Esse rapaz é o alter-ego do cineasta em cena, com uma obsessão pelo registro desde manobras de skate até genitais dos amigos. A textura da imagem do vídeo dá a sujeira necessária para construir uma estética condizente com a proposta de desnudamento dos personagens que suam, choram, transam e respiram.

Há cenas potentes aqui e ali no longa-metragem, como a mãe desnorteada buscando conforto sexual no próprio filho e o suicídio por um amor não correspondido. Mas, como sempre, é na dramaturgia que Larry Clark vai apresentar os principais problemas. Em O Cheiro da Gente é perceptível o quanto o cinema de Clark se ressente do roteiro de Harmony Korine, autor de Kids e também cineasta. Korine consegue desenvolver melhor cada núcleo de personagens e não investir em imagens provocativas, porém vazias, caso do ataque de jovens a um automóvel para atear fogo. O ato de rebeldia está ali, mas soa mecânico e frágil. Por mais que o personagem principal esteja claramente em uma crise existencial, com olhar perdido até mesmo no momento do sexo, não existe uma construção que permita compartilhar e refletir sobre sua dor.

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Outros comentários
    4231
  • ivan
    05.12.2015 às 07:38

    Larry Clark, é um grande cineasta. Extremamente marxista, e somente se preocupa em retratar jovens com comportamentos autodestrutivos. Eu não apoio o marxismo-leninismo, mais é importante que trabalhos como esse sejam feitos. Pelo menos para servir de orientação!