Críticas


STAR WARS – EPISÓDIO III – A VINGANÇA DOS SITH

De: GEORGE LUCAS
Com: EWAN MCGREGOR, NATALIE PORTMAN, HAYDEN CHRISTENSEN
24.05.2005
Por Ricardo Pereira
A FORÇA ESTÁ COM GEORGE LUCAS

Há 28 anos, um cineasta independente preparava-se, sem ele próprio o saber, para mudar o curso da história do cinema e da cultura popular do nosso planeta. Quando do lançamento do primeiro filme da saga e conseqüente sucesso sem precedentes a nível mundial, George Lucas possuía já uma visão clara da totalidade desta sua história e de todas as personagens que a habitavam. Foi somente dezesseis anos após o último episódio da trilogia original (Guerra Nas Estrelas, de 1977; O Império Contra-Ataca, de 1980; O Retorno de Jedi, de 1983), que Lucas decidiu retomar com A Ameaça Fantasma os antecedentes da fábula de Luke Skywalker, nomeadamente a transformação do Jedi Anakin Skywalker em Darth Vader. Depois de dois capítulos e uma sensação de perda de rumo, Lucas fecha o círculo e encerra de uma vez por todas (até que se prove o contrário) a mítica saga de Star Wars.



Três anos depois do início da Guerra dos Clones, a República prepara-se para as investidas finais contra os Separatistas, com a preciosa ajuda dos Jedi. O Chanceler Palpatine, agora com poder supremo no Senado, terá de abdicar dos seus poderes de emergência depois do líder inimigo ser derrotado, mas tal não parece vir a acontecer, pois à medida que corrompe o sistema corrói também a alma poderosa mas fragilizada de Anakin Skywalker (Hayden Christensen), cada vez mais próximo do Lado Negro da Força.



É com algum ceticismo que grande parte da população veneradora da saga de Luke Skywalker parte para este A Vingança dos Sith, carregando o fardo da desilusão dos episódios anteriores. Muitos julgam Lucas incapaz de voltar a beber da fonte de inspiração original e entregar convincentemente Anakin ao Lado Negro. Contudo, todos os receios parecem quebrar-se à medida que este derradeiro capítulo se vai desvendando com voracidade na grande tela. Cedo se sente uma corrente de mudança na essência do filme, recapturando grandiosamente o fulgor do verdadeiro espírito de Star Wars, presente nos três episódios originais e em pequenas quantidades em O Ataque dos Clones, onde esse espírito era pouco mais que um vulto fugaz. As formas aqui são tremendamente definidas e respira-se de alívio enquanto a magia volta finalmente a instalar-se depois de tantos anos de espera.



No entanto esse relaxamento rapidamente é preenchido por um sentimento assolador de perdição e ruína, enquanto assistimos à queda de Anakin, o Escolhido, aquele que viria trazer um equilíbrio à Força. Fatalmente apaixonado por Padmé (Natalie Portman), que revela estar grávida de um filho seu, é aliciado pelo poder corrosivo do Lord Sith com o intuito de proteger a sua mulher e a nova vida que se desenvolve no seu ventre. Para trás ficam os mandamentos altruístas de honra dos Jedi - agora proclamados inimigos da República - sabiamente transmitidos por Obi Wan (Ewan McGregor), o seu mentor e melhor amigo, também ele alvo do genocídio. O manto negro que gradualmente cobre Anakin é desdobrado por toda a narrativa, detentora de uma soturnidade e asfixia dramática inesperada.



Lucas lidera o filme com uma maestria surpreendente, lembrando aquele poeta visual utopista dos anos setenta, não se deixando cair na tentação de colorir a força devastadora do drama com invasões indulgentes e deixando-a completamente mergulhada na sombria assolação do drama interior de Anakin. A pontuação musical de John Williams é a mais importante de todos os episódios, conferindo-lhe um esplendor operístico de tragédia e sofrimento, introduzindo novas orquestrações (e também brilhantes vocalizações) de pura fatalidade enquanto trabalhava os temas imortais que foi construindo desde 1977.



A história é inevitavelmente o grande trunfo de A Vingança dos Sith, e por conseqüência as suas personagens, possuidoras de um âmago emocional e trágica devastação apenas presente em O Império Contra-Ataca, indubitavelmente o melhor capítulo de toda a saga. Hayden Christensen possui uma coerência preciosa ao longo de todo o filme e sua viagem infernal é sentida com um envolvência asfixiante. A terrível aflição e medo de Natalie Portman e a amizade traída de Ewan McGregor são comoventes em todas as suas ilimitadas dimensões e o carisma maléfico de Ian McDiarmid ganha contornos memoráveis. E todos eles encontram-se agora inseridos em ambientes palpáveis e carregados de vida e morte, bem e mal, libertando-se finalmente do artificialismo que tão grande distanciamento causou nos episódios anteriores.



À medida que vemos Lord Darth Vader, desprovido da humanidade abnegada de Anakin, erguer-se pela primeira vez assistimos a um momento histórico de cinema. Quando aquele respirar debilitado e mecânico ecoa pela sala de cinema sente-se novamente todo o poder da Força. A nostalgia dos sonhos criados por Lucas tardou em reaparecer mas A Vingança dos Sith é matéria-prima de lendas edificadas e desmoronadas, em que o espírito humano é pintado com todas as suas cores e manifestações.



# A VINGANÇA DOS SITH (Star Wars: Episode III - The Revenge of the Sith)

EUA, 2005

Direção, roteiro e produção executiva: George Lucas

Fotografia: David Tattersall

Montagem: Roger Barton e Ben Burtt

Direção de Arte: Ian Gracie, Phil Harvey e David Lee

Figurinos: Trisha Biggar

Produção: Rick McCallum

Música: John Williams

Elenco: Ewan McGregor, Natalie Portman, Hayden Christensen, Ian McDiarmid, Samuel L. Jackson, Jimmy Smits, Anthony Daniels, Christopher Lee, Keisha Castle-Hughes

Duração: 170 min.

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