O problema de filmes de sucesso inesperado que ganham diversas continuações é que a fórmula se esgota, as novidades escasseiam e o espectador sai decepcionado. Pelo menos deve ser esse o estado de espírito dos que viram os primeiros dois filmes do agente amalucado Austin Powers e resolvem conferir este Austin Powers em O Homem do Membro de Ouro. Nem com a ajuda da turma do Casseta e Planeta Mike Myers consegue fazer seu novo filme atingir o nível de risos dos dois anteriores.
Turma do Casseta e Planeta? Sim, os humoristas da Globo foram recrutados pela distribuidora brasileira do filme para adaptar as piadas na hora da tradução. O resultado não é nada empolgante, com diversos tiros n’água – como traduzir o nome da personagem Foxxy Cleopatra (uma homenagem às musas dos filmes de blaxploitation da década de 70, Foxy Brown e Cleopatra Jones) para Fiofóxi, um trocadilho ridículo com fiofó.
Antes que o crítico seja chamado de mal-humorado, é bom frisar que há, sim, algumas boas piadas, mas muito poucas para justificar um longa-metragem de 94 minutos. O maior problema é que o roteiro desperdiça várias chances de se fazer bom humor. A já citada personagem Foxxy Cleopatra, por exemplo, é um achado, mas o filme jamais explora devidamente o processo de adaptação de uma legítima representante da cultura black dos anos 70 que é transportada para os dias atuais. Michael Caine, como o “pai ausente” de Austin Powers e veterano agente secreto galanteador, também aparece muito menos do que poderia. Além disso, a volta do personagem Igor Dão e suas piadas escatológicas são totalmente dispensáveis.
Austin Powers surgiu em 1997 para dar um novo gás às comédias escrachadas americanas, que cada vez mais pareciam tratar o espectador adolescente americano como retardado. Com sua direção de arte e trilha sonora deliciosamente retrôs, mais as citações cinematográficas e o humor ao mesmo tempo chulo e metalingüístico, caiu no gosto não só do grande público como agradou também ao público um pouquinho mais exigente. O segundo episódio procurou meio que aprimorar a fórmula, sem mudar muita coisa. Este terceiro mostra que Mike Myers parece ter se acomodado com o sucesso do personagem.
A cena mais engraçada do filme é uma mera repetição do que já foi visto em Austin Powers – O Agente Bond Cama: um jogo de sombras que causa ilusão de ótica em relação ao membro de Powers. Assim como em outra cena, onde ele simula o funcionamento de um chafariz, o riso é garantido graças ao bom timing de Myers. Há também algumas sacadas metalingüísticas, a la Monty Python, como a confusão causada pela legenda do filme durante um diálogo em japonês, e a ótima paródia aos videoclipes de hip hop, com uma versão do tema musical do filme infantil Annie.
Por mais simpatia que Austin Powers continue despertando, ainda é muito pouco para justificar outra continuação.
# AUSTIN POWERS EM O HOMEM DO MEMBRO DE OURO (AUSTIN POWERS IN GOLDMEMBER)
EUA, 2002
Direção: JAY ROACH
Roteiro: MIKE MYERS e MICHAEL McCULLERS
Produção: JOHN S. LYONS e ERIC McCLEOD
Fotografia: PETER DEMING
Montagem: GREG HAYDEN, JON POLL
Supervisão Musical: JOHN HOULIHAN
Elenco: MIKE MYERS, MICHAEL CAINE, BEYONCÉ KNOWLES, SETH GREEN, ROBERT WAGNER, MICHAEL YORK, FRED SAVAGE
Duração: 94 min.
site: www.austinpowers.com