Críticas


IRMÃOS

De: PATRICE CHÉREAU
Com: BRUNO TODESCHINI, ERIC CARAVACA, NATHALIE BOUTEFEU
22.06.2005
Por Daniel Schenker
DESNUDAMENTO, REVELAÇÃO, INTIMIDADE

O afeto reprimido entre dois irmãos, Thomas e Luc, está no centro das atenções do diretor Patrice Chéreau, que mostra a desconstrução da formalidade no relacionamento de ambos a partir do momento em que um deles reivindica a presença do outro ao se descobrir portador de uma rara doença sangüínea. O processo de lenta reaproximação inclui denúncias de abandono, recordações de um passado de proximidade (“Meu irmão foi o primeiro garoto que conheci”, relembra Luc) e comprovação da legitimidade de formas diversas de expressão do amor.



Chéreau parece particularmente interessado no universo da intimidade (não por acaso, título de um de seus filmes anteriores). Não aborda o corpo pela superficialidade, mas sim como terreno privado. No hospital, Thomas é levado a se desnudar em sucessivas e profundas camadas diante de Luc. Desnudamento literal, de um homem frente a um outro (nessa perspectiva, Chéreau talvez pudesse ter mergulhado um pouco mais no campo das relações masculinas, a exemplo da primeira parte de Oito Mulheres E Meia , de Peter Greenaway); desnudamento existencial, na revelação do medo profundo a partir da perspectiva da morte; e desnudamento cirúrgico, nas intervenções médicas que distanciam cada vez mais o ser humano de seu corpo.



É como se Thomas colocasse Luc na posição de espectador privilegiado de sua perda de controle da instância física. Impressão reforçada por uma ótima passagem, na qual Luc expressa imprevisível cumplicidade ao ser interpelado por Manuel, um jovem desconhecido e recém-operado, impedido, como Thomas, de governar o próprio corpo. Já seqüências incômodas e propositadamente longas, como a da coleta de sangue e, em especial, a da depilação (contrastada com a assepsia no tom das enfermeiras) tendem a sensibilizar o público. O objetivo é alcançado com sucesso, mas a melhor cena de Irmãos surge perto do final da projeção, quando Luc “reconhece” o corpo de Thomas ao massageá-lo.



Vencedor do Urso de Prata de melhor direção na edição de 2003 do Festival de Berlim, Chéreau é auxiliado por sua larga experiência teatral. Não por acaso, prioriza os atores (Bruno Todeschini e Eric Caravaca, em boa contracena) num trabalho cuja única nota destoante é a inadequada utilização da música de Marianne Faithfull.



# IRMÃOS (SON FRÈRE)

França, 2002

Direção: PATRICE CHÉREAU

Roteiro: PATRICE CHÉREAU & ANNE-LOUISE TRIVIDIC

Fotografia: ERIC GAUTIER

Montagem: FRANÇOIS GÉDIGIER

Produção: AZOR FILMS

Elenco: BRUNO TODESCHINI, ERIC CARAVACA, NATHALIE BOUTEFEU

Duração: 95 minutos

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