O enredo aborda a interessante questão relativa à incapacidade de autocrítica de gente muito empolgada por alguma forma de manifestação artística e que se crê “artista”. Como se tivesse talento, mais além da paixão pelo que tenta fazer, entretanto sem ser dotada de condições básicas e razoáveis para se expor ao público fora de um círculo amador e bajulador. Pena que o filme se alongue tanto e nem sempre desenvolva seus sub-enredos de modo satisfatório.
O mesmo tema será visto em breve em outro filme, Florence: quem é esta mulher?, com Meryl Streep dirigida por Stephen Frears, e mais diretamente baseado na vida real de Florence Foster Jenkins, uma ricaça novaiorquina que no início do século XX pretendia cantar óperas sem nenhuma aptidão vocal para o canto lírico. Marguerite é francamente calcado nesta mesma história, apenas transposta para a França e na mesma época.
Mas nem mesmo a composição elegante - e premiada - da atriz Catherine Frot para uma personagem que seria apenas ridícula, mas à qual ela dá humanidade - e até mesmo dignidade – alivia o peso do filme até chegarmos ao desfecho
(ATENÇÃO, SPOILER)
em que surge uma nova versão do mito de Narciso: não poder se ver (no caso, se escutar), mas não porque possa se perder admirando a beleza que traz em si, mas por constatar justamente o oposto.