Críticas


FESTIVAL DO RIO 2005: O GOSTO DO CHÁ

De: KATSUHITO ISHII
Com: MAYA BANNO, TAKAHIRO SATO, TADANOBU ASANO
22.09.2005
Por Daniel Schenker
HIPERSENSIBILIDADE CONSTANTE

O Gosto Do Chá , um dos títulos mais aguardados do Festival do Rio, lembra que ninguém tem uma percepção imparcial da realidade. Cada pessoa faz sempre a sua apropriação subjetiva do real, ainda que a noção da diferença entre a verdadeira proporção das coisas e a intensidade com que se sente faça parte da evolução humana. Em todo caso, o diretor Katsuhito Ishii valoriza o olhar peculiar dos integrantes de uma família em relação ao universo à volta. Alcança resultado particularmente expressivo no que diz respeito aos dois irmãos, com o menino vivenciando com intensidade seu momento de transição e a menina, autocentrada e melancólica, confinada nos superlativos de sua imaginação num terreno baldio onde brinca na clandestinidade.



“É difícil você entender porque se trata do meu mundo”, diz a mãe à filha. Sem demonstrar muito controle sobre os seus processos, as personagens palmilham esferas mais profundas que as próprias consciências, experimentando, eventualmente, acesso aos campos secretos uns dos outros através de métodos de hipnose. Em todo caso, a nota dos relacionamentos oscila entre o distanciamento e o respeito à privacidade com um achado ao final que revela aguda observação por parte do avô lutador. Katsuhito Ishii aborda o estado de hipersensibilidade permanente dos integrantes da família sem as habituais amarras do realismo. Trens que atravessam cérebros, girassóis em proporções gigantescas e a própria imagem aumentada muitas vezes tomam conta da tela grande num filme singular que ora mergulha no lirismo, ora se distancia dele.





# O GOSTO DO CHÁ (CHA NO AJI)

Japão, 2004

Direção e roteiro: KATSUHITO ISHII

Elenco: MAYA BANNO, TAKAHIRO SATO, TADANOBU ASANO, SATOMI TEZUKA, TATSUYA GASHUIN

Duração: 143 minutos

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário