Poderia ser – e freqüentemente parece – um documentário. Holy Lola, de Bertrand Tavernier, é claramente baseado em pesquisas sobre o processo de adoção de crianças asiáticas por famílias do Primeiro Mundo. É aquele tipo de filme em que cada cena parece ilustrar um aspecto da questão, muito embora os realizadores tenham o cuidado de trocar o aspecto didático por uma impressão de flagrante da realidade.
Um casal francês chega ao Camboja para adotar um bebê . O investimento emocional é enorme, a ponto de Géraldine se apaixonar por toda criança que cruza o seu caminho ou toma nos braços por um momento. Mas o sistema é cruel. Enquanto famílias abastadas americanas adotam seus filhos por catálogo, sem jamais botar os pés a leste do Meridiano de Greenwich, os adotantes de classe média européia precisam enfrentar um verdadeiro calvário: burocracia infinita, corrupção galopante e as manhas da máfia do tráfico de bebês. Isto sem falar no calor, nos mosquitos e nas surpresas da comida khmer.
Co-escrito por Tavernier com sua filha Tiffany e Dominique Sampiero (a mesma trinca de Quando Tudo Começa), este é mais um filme que almeja ir além do espetáculo, fazendo da dramaturgia uma ferramenta de observação e denúncia social. Atores pouco estelares, câmera na mão, narrativa despojada. Tavernier parece, de um lado, trafegar na contramão de um cinema contemporâneo largamente ancorado na diversão narcísica. De outro, explora com muita competência a fusão de registros, bastante atual, entre documentário e ficção. Holy Lola foi incrivelmente filmado em locações autênticas de Phnom Penh e do interior do Camboja, em meio à vida do país que seguia em frente, com sua herança trágica da guerra civil.
# HOLY LOLA
França, 2004
Direção: BERTRAND TAVERNIER
Elenco: JACQUES GAMBLIN, ISABELLE CARRÉ, BRUNO PUTZULU, LARA GUIRAO, FRÉDÉRIC PIERROT
Duração: 125 minutos
