Difícil de acreditar, mas um thriller de guerra tão cheio de suspense como Violação de Domicílio é baseado numa história verídica: uma família de classe média palestina vive numa área ocupada pelo exército israelense e há anos tem sua confortável casa de dois andares situada no alto de uma colina invadida sucessivamente por tropas israelenses. Mesmo sofrendo com todo o tipo de intempéries e agressões, eles se recusam a deixar o local.
O que se destaca no filme do diretor estreante Saverio Costanzo é a forma como ele se utiliza da situação para experimentar as diversas possibilidades cinematográficas de se retratar uma guerra olhando para dentro. Não importa o que está acontecendo lá fora, mas sim como o aspecto macro do conflito pode alterar a rotina de uma pacata família e seu comportamento dentro de casa. A câmera subjetiva e sufocante cumpre à risca o papel de traduzir como sete pessoas se sentem tendo que abrir mão de sua privacidade e de metade da casa, por tempo indeterminado, para se submeter às ordens de um grupo de soldados nada amistosos e que sequer falam sua língua.
Tá na cara que Violação de Domicílio, é, antes de tudo, uma metáfora da ocupação do território palestino por Israel. Mas o maniqueísmo sugerido pela vilanização israelense é em parte evitado pelo olhar que os personagens palestinos conferem ao inimigo, especialmente a partir do momento em que a irracionalidade trazida pela raiva é substituída pela serenidade que se conquista ao compreender, que, no fundo, todos são vítimas.
# VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO (Private)
Itália, 2004
Direção e Roteiro: SAVERIO COSTANZO
Elenco: LIOR MILLER, MOHAMMAD BAKRI, TOMER RUSSO
Duração: 90 min.