Passados 100 anos, até hoje pouco se fala do massacre turco que culminou com a morte de cerca de 1,5 milhão de armênios. O cinema, ainda timidamente, vem tratando do tema sobretudo por meio de diretores de origem armênia, como o egípcio-canadense Atom Egoyan (“Ararat”, de 2002) e o francês Robert Guédiguian, com este “Uma história de loucura”.
O filme é bastante esclarecedor no que se refere ao Holocausto Armênio, começando em 1921, com o assassinato em Berlim do líder turco Talaat Pacha por Soghomon Tehlirian, que foi absolvido no julgamento e virou um herói armênio. A narrativa dá um salto até os anos 1980, em Marselha, quando o jovem Aram (Syrus Shahidi) se junta a um grupo que pratica atentados na Europa como forma de chamar atenção para o genocídio nunca reconhecido oficialmente pelo governo turco.
Como estamos diante de um filme do diretor dos engajados (e brilhantes) “As neves do Kilimandjaro” e “A cidade está tranquila”, é de se esperar que o roteiro acrescente ao relato histórico discussões de caráter humanista, plantando dilemas morais que encontram eco nos dias de hoje, sobretudo na França traumatizada pelos atentados recentes. “Justiceiros” ou “assassinos”? “Resistentes” ou “terroristas”? Até que ponto a defesa de uma causa política justifica a morte de inocentes?
São questões que Guédiguian nos coloca pelo viés dos laços familiares, da relação de uma mãe (a sempre ótima Ariane Ascaride) com o filho ausente, da vítima com seu algoz. Ressaltando, por fim, a importância de que o desejo de entender sempre prevaleça sobre a sede de vingança.
(Publicado originalmente em O Globo dia 21.10.2016)