Dono de um estilo bastante reconhecível e criador de personagens sombrios e empáticos, Tim Burton conta, na nova animação A Noiva-Cadáver , uma história simples, valorizada por uma inversão estética que, apesar de não ser muito original, funciona na tela grande. Enquanto a esfera dos vivos – habitada pelo desajeitado e simpático Victor Van Dort e por sua noiva prometida, Victoria – é escura e tomada por variações de azul frio, a dos mortos – onde se encontra a Noiva-Cadáver do título – surge iluminada, colorida e vibrante.
O resultado final se revela mais favorável para os vivos, seja pela expressiva utilização de determinadas gradações (a partir do momento em que Victoria é condenada a se casar com o vilão Lord Barkis, o espectador se vê diante de uma bela variação de preto e branco), seja pelas personagens mais carismáticas e bem construídas (a exemplo dos pais de Victor e Victoria, os ricos cafonas do lado dele e os falidos esnobes de ambos, além dos empregados de ambas as partes). Não que os integrantes do “exército” dos mortos, com seus corpos em decomposição, não sejam expressivos (destaque para o cachorrinho morto). O conjunto, porém, fica algo disperso.
Mais do que levar o público a refletir sobre “o que nos aguarda além do túmulo”, um tema-clichê, o filme toca em pontos menos abordados, como a necessidade de reparação mesmo diante de feitos irreparáveis. É o caso da Noiva-Cadáver, que não tem como recuperar o que lhe foi usurpado. Ainda que posta diante do definitivo, a personagem-título não adquire tintas vilanescas na triangulação com Victor e Victoria (“Meus sonhos foram roubados de mim. E agora estou roubando os de outra pessoa”, diz a Noiva, numa manifestação de consciência e culpa).
Dividindo a direção com Mike Johnston, Burton, que já tinha marcado presença no terreno da animação com O Estranho Mundo de Jack , chamou os atores com quem costuma trabalhar, como Johnny Deep (Victor) e Helena Bonham-Carter (Noiva-Cadáver), para fazer as vozes dos protagonistas, completados com a contribuição da ótima Emily Watson (Victoria). Nos últimos tempos, o cineasta vinha mostrando oscilante saldo criativo, a julgar pelos discutíveis A Fantástica Fábrica de Chocolate e Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas . Entretanto, reafirma com A Noiva-Cadáver a qualidade de sua assinatura.
# A NOIVA-CADÁVER (TIM BURTON´S CORPSE BRIDE)
Reino Unido, 2005
Direção: TIM BURTON & MIKE JOHNSTON
Roteiro: PAMELA PETTLER & CAROLINE THOMPSON
Produção: ALLISON ABATE & TIM BURTON
Fotografia: PETE KOZACHIK
Montagem: JONATHAN LUCAS
Música: DANNY ELFMAN
Elenco: JOHNNY DEEP, HELENA BONHAM-CARTER, EMILY WATSON
Duração: 75 minutos
