O cinema de Pedro Almodóvar é evocado em Rainhas através da abertura tomada por cores fortes, da presença de atrizes recorrentes nos seus filmes (em especial, Carmen Maura e Marisa Paredes) e de citação nominal. Mas, apesar de todas estas referências diretas, o filme de Manuel Gómez Pereira não traz influências realmente significativas do cinema de Almodóvar.
O cineasta dirige uma comédia funcional, investindo no humor popular e, ao mesmo tempo, ensaiando um registro levemente reflexivo. Mostra-se, porém, distante tanto do atrevimento dos primeiros trabalhos de Almodóvar, repletos de tonalidades kitsch, quanto de sua fase mais comedida, do início da década de 90 em diante. Gómez Pereira procura brincar com a estrutura de seu filme ao investir num jogo temporal em detrimento de uma narrativa cronológica, mas não consegue esconder a natureza ultrapassada de Rainhas . Afinal, quantas vezes o espectador já se deparou com seqüências como a de duas mulheres maduras que fingem ser homossexuais para entrar num determinado lugar? Ou a de um homem que discute com a namorada segurando, sem perceber, a calcinha de uma outra mulher? O efeito junto a platéia pode ser (quase) infalível, mas cabe chamar a atenção para o investimento numa desgastada fórmula de humor popular.
Principais atrativos de Rainhas , as atrizes interpretam mães que criam uma série de confusões às vésperas do casamento de seus filhos gays. Há a ninfomaníaca que faz sexo com as pessoas mais inadequadas, a atriz famosa que se percebe apaixonada pelo jardineiro a quem nunca deu muita atenção, a juíza que se depara com a incumbência de oficializar o casamento do próprio filho, a inoportuna que não perde uma oportunidade para se fazer notar, e por aí vai. Não se pode negar a Manuel Gómez Pereira alguma eficácia, mas o resultado final é bastante modesto.