Este filme da diretora espanhola Isabel Coixet abriu o Festival de Berlim em fevereiro de 2015 mas não tem tido distribuição mundial mais ampla. Entretanto, talvez seja o melhor resultado alcançado pela cineasta (dentre os filmes que conhecemos de sua autoria) com o bônus de mais uma interpretação marcante de Juliette Binoche que forma uma dupla admirável com a japonesa Rinko Kikuchi (que já foi indicada a um Oscar pelo filme Babel, no que Babel podia ter de menos sensacionalista: o episódio passado em Tóquio). Kikuchi está excepcional no papel de uma inuit (esquimó).
Com as mais conhecidas exceções de Nannok, o esquimó, de Flaherty, ainda no tempo do silencioso (1922), e de Sangue sobre a Neve, de Nicholas Ray (1960), o cinema raramente aborda a vida inóspita dos esquimós. Que também não chega a ser o tema principal deste filme, centrado na figura (real, embora o enredo desenvolvido seja uma ficção) de Josephine Peary, esposa do explorador do Polo Norte, Robert Peary. Em 1908 ela foi ao encontro do marido correndo riscos enormes em planícies congeladas. Mas o encontro de Josephine (Binoche) com Allaka (a esquimó vivida por Kikuchi) é o ponto mais interessante do filme, bem mais do que a já tensa parte inicial da difícil caminhada pela neve, onde Gabriel Byrne faz o papel de guia. O desencontro cultural e a relação de rivalidade inicial entre as duas mulheres é muito bem retratado, desenvolvido e interpretado.
Com várias indicações ao maior prêmio do cinema espanhol, o “Goya” (mesmo que falado em inglês) Ninguém deseja a Noite venceu em categorias técnicas mas mereceria mais. Atenção: foi exibido recentemente durante o Festival do Rio deste ano como "Noite sem Fim" mas acabou finalmente lançado com nome idêntico ao original espanhol Nadie quiere la noche. Na tela grande apreciamos melhor tanto as paisagens geladas e desoladas como os embates entre a senhora ocidental que, como o marido, busca o topo do mundo, e a inuit bem mais terra-a-terra - ou, melhor dizendo, neve-a-neve.