Críticas


ESTADOS UNIDOS PELO AMOR

De: TOMASZ WASILEWSKI
Com: JULIA KIJOWSKA, MAGDALENA CIELECKA, DOROTA KOLAK
30.12.2016
Por Marcelo Janot
Um complexo e desolador cenário de sonhos e frustrações sentimentais

Na cena do jantar que abre o filme, as personagens conversam animadamente. Falam sobre a possibilidade de comprar uma máquina de lavar, calças jeans e comemoram que agora até Fanta se encontra no supermercado. Mas o deslumbre capitalista aparece ao longo da narrativa de forma bem mais sutil do que sugere o forçado jogo de palavras do título “Estados unidos pelo amor”. O que se vê no filme do jovem diretor Tomasz Wasilewski, vencedor do prêmio de melhor roteiro no Festival de Berlim, é antes de tudo um complexo e desolador cenário de sonhos e frustrações sentimentais, mostrando como os ventos de liberdade que sopram numa cidade polonesa em 1990 afetam a vida de quatro mulheres cheias de desejos reprimidos.

Casada há 15 anos e com uma filha adolescente, Agata é assombrada por desejos eróticos por um jovem padre. Iza, diretora da escola local, não aceita que o homem com quem mantinha uma relação extraconjugal não queira ficar com ela após a morte da mulher dele. Renata, professora de literatura da escola e cliente da videolocadora de Agata, nutre uma estranha obsessão por sua vizinha Marzena, que vem a ser irmã de Iza. Marzena, cujo marido emigrou pra ganhar dinheiro no exterior, é professora de aeróbica e sonha com a carreira de modelo no mundo capitalista.

As histórias de cada uma são contadas em blocos, com leves interseções e idas e vindas no tempo. Há cenários em comum, como a escola, a igreja e sobretudo o conjunto habitacional típico dos países da Cortina de Ferro. É importante situar esses dramas intimistas no tempo e espaço políticos, e isso é feito tanto pela espetacular fotografia do romeno Oleg Mutu, que dá um colorido cadavérico a personagens e cenários, quanto pelas breves sugestões de metáforas que o roteiro oferece. Focado num período de transição e incertezas, o filme é um convite a deixar de lado julgamentos maniqueistas para que se embarque pela psique dessas mulheres sofridas, presas numa espécie de limbo à espera da tão sonhada redenção.



Publicado originalmente em O Globo de 30.12.2016

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