"Capitão Fantástico" segue a cartilha do “feel good movie” independente sobre famílias que fogem ao padrão convencional: pequenos dramas diluídos em tiradas bem humoradas. Funciona nas bilheterias e costuma render indicações ao Oscar, como vimos com “Pequena Miss Sunshine”, “Minhas Mães e Meu Pai”, entre outros. Este tipo de filme raramente faz com que o espectador se reconheça na tela ou provoca alguma reflexão mais profunda, mas a empatia com os personagens é imediata. Que bonitinha essa família de crianças extraordinariamente saudáveis e letradas, que comemora o aniversário de Noam Chomsky e não se contamina pelo capitalismo perverso (mesmo que seja necessário dinheiro para encher o tanque do ônibus adaptado como motorhome)!
Embora os personagens se vistam como se tivessem saído de um filme de Wes Anderson, o roteiro procura dar um tratamento realista a essa fantasia, mas deixa alguns furos pelo caminho. Isso não impede que “Capitão Fantástico” tenha seus bons momentos. O melhor deles está na cena do jantar, em que a educação dada àquelas crianças com nomes de filhos de Baby Consuelo e Pepeu Gomes é confrontada com aquela dada a seus primos “capitalistas”, especialmente no que diz respeito à proibição de mentir, mesmo sobre assuntos considerados tabus ou impróprios para menores.
Se trata as questões políticas e educacionais em nível anedótico, ao menos uma cena ficou na minha mente: quando o pai pede à sua filha que dê sua avaliação sobre o livro “Lolita” e ela o resume como “interessante”, ele lhe diz que “interessante” é uma “não-palavra”, e a estimula a fazer uma análise mais específica do livro de Nabokov. Tenho certeza de que a partir de agora muitos críticos pensarão duas vezes antes de classificar um filme como “interessante”.
