Park Chan-Wook é o mais barroco dos cineastas coreanos. A obsessão por criar um plano mais bonito do que outro artificializa os resultados. Quando tem um grande ator em cena, como em Old Boy, que traz Min-sik Choi (Eu vi o Diabo), há o contrabalanço. Mas nesse A Criada (Handmaiden, 2016) o esteta engole tudo, inclusive os atores. São todos lindos, sensuais e frios, até mesmo quando expõem suas taras.
Gostaríamos que, além do aparente brilho de uma encenação intoxicada pelo seu próprio virtuosismo, Park Chan-Wook surpreendesse com algo realmente inesperado. Mas não há nada de diferente que já não tenhamos visto em seus filmes anteriores. A forma como ele confina a ação, como ritualiza o cotidiano (ok, podemos pensar que isso faz parte do costume oriental, mas Chan-Wook se apoia no cerimonial como se fosse uma muleta). E tem mais, ele se acha "o" narrador. Suas tramas são repletas de idas e vindas, ênfases num simbolismo manjado, e, é claro, ele também se acha o mestre das reviravoltas. Torce e retorce uma história para esfregar na nossa cara como está tratando de um tema importante e complexo, quando, na verdade, o enredo é simples e cristalino. Isso agravou-se em sua filmografia a partir de Lady Vingança (2005). Park Chan-Wook quer nos convencer que a sua obra é difícil e "artística", quando na verdade os problemas são: 1) falta de contenção em seu exibicionismo estético, 2) dificuldade de síntese.
A Criada extrapola os cacoetes numa intriga que dura absurdas duas horas e meia. É um filme repetitivo e cansativo.
São dois universos confrontados aqui, um envolvendo uma camponesa chinesa (Kim Tae-ri) às voltas com um trapaceiro (Jung-woo Ha), e outra envolvendo uma jovem herdeira japonesa (Min-hee Kim) dominada pelo jogo de perversão de seu tutor (Jin-woong Jo). Esses dois mundos se entrelaçam quando a chinesa é contratada para trabalhar como criada na casa da milionária. Não demora para ambas perceberem que têm algo em comum. As duas são vítimas dos mandos e desmandos de seus opressores. A primeira, do trapaceiro, a segunda, do tutor. E é claro, no meio dessas descobertas aflora algo que, em princípio, elas não conseguem lidar, mas que gradativamente arde e pega fogo. As cenas de sexo entre as duas têm uma atmosfera sensorial que, felizmente, quebra o clima cerimonial.
Park Chan-Wook coloca os peões no jogo e embaralha as relações de confiança. Afinal, nenhum dos quatro são poços de virtude. O filme ganharia muito se a trama fosse menos calculada, se explorasse o humor e quebrasse as simetrias. Mas Chan-Wook, definitivamente, não vê graça num objeto quebrando a harmonia da cena. Tudo tem que ser minimamente certinho e bonito.