Críticas


A QUALQUER CUSTO

De: DAVID MACKENZIE
Com: CHRIS PINE, BEN FOSTER, JEFF BRIDGES, GIL BIRMINGHAM
03.02.2017
Por Marcelo Janot
Misturando elementos de western com road movie, oferece um retrato pungente da América texana em crise econômica e moral.

A paisagem à margem das estradas que cortam o oeste do Texas é melancólica e desoladora: poços de petróleo desativados, casas à venda, comércio fechado, outdoors oferecendo “crédito fácil”. Meio comanche, meio mexicano, o patrulheiro Alberto (Gil Birmingham) comenta com seu colega Marcus (Jeff Bridges) que os descendentes daqueles que roubaram as terras dos índios agora estão sendo roubados, só que não mais por um exército, mas, sim, pelos bancos.

Em A QUALQUER CUSTO, o sonho americano se tornou um pesadelo para aqueles que veem a pobreza ser transmitida de geração em geração enquanto as instituições financeiras enriquecem às custas da dor alheia. É por isso que, embora perseguidos pela polícia, os irmãos Howard (Ben Foster e Chris Pine) são vistos mais como vítimas do que como vilões. Afinal, ao decidirem roubar agências do banco que está prestes a tomar o rancho hipotecado em que vivia sua mãe, eles estão apenas querendo corrigir algo muito errado no “sistema”.

O diretor escocês David Mackenzie, do brilhante drama prisional “Encarcerado”, agora oferece, misturando elementos de western com road movie, um retrato pungente dessa América texana, recheada de patéticos caubóis contemporâneos dispostos a mostrar sua macheza fazendo uso das próprias armas. Perto de se aposentar, o personagem de Bridges, apesar de todo o preconceito arraigado, é o elo com dois itens em vias de extinção na terra de Trump: justiça e inteligência.



Publicado originalmente em O Globo de 03.02.17

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Outros comentários
    4506
  • Allard Amaral
    06.02.2017 às 12:49

    "A qualquer custo" é um tipo faroeste atual, com tiradas de road movie e sacadas de western clássico. A dupla de irmãos ladrões são irresistíveis que acabamos torcendo por eles. O desenrolar da história é muito bom, dando chances aos dois lados e ficamos sem saber quem são os autênticos mocinhos. O xerife interpretado por Jeff Bridges é brilhante e nos contagia. Bom filme americano !!!