No seu sonho cor-de-rosa, Justin, rapaz de 17 anos, chupa o dedo e é aceito pelos pais. Na vida real, as coisas não acontecem exatamente assim. “Corta essa de aceitação”, diz o pai, Mike, à mãe, Audrey, ao recriminar Justin por vê-lo ainda apegado ao antigo hábito. Ocasionalmente discriminado pelo pai, ele parece sentir necessidade de se ajustar para ser aceito. Talvez por isso acabe aderindo ao uso constante de estimulantes. Com os remédios, tudo parece se resolver. Mas os descompassos temporais – antes evidenciados através do retrato de um rapaz que, apesar de ainda chupar o dedo, não apresenta outros sintomas infantis – permanecem.
A partir de determinado momento, por exemplo, Justin passa a exercer autoridade sobre os pais, que não são chamados de pai e mãe e sim pelos próprios nomes para que eles, casados desde jovens, não se sintam velhos. Como filhos invadidos em sua privacidade pelos pais, Mike e Audrey não conseguem camuflar a insegurança diante de Justin. Em todo caso, não demora muito para a fórmula mágica dos remédios começar a perder o efeito. É o instante em que Justin tem um pesadelo cor-de-rosa e cai na real.
O diretor Mike Mills se detém com sensibilidade na transição da adolescência para a vida adulta – uma passagem já em si normalmente conturbada e vivenciada, muitas vezes, sem tanta ajuda da família. Mas, mesmo quando se pode contar com a família, não há como escapar da solidão. “Devíamos ter todas as respostas e não temos nenhuma. Até a idéia de que se temos uma família não nos sentimos tão sós...”, formula Audrey, reiterada, em certa medida, pelo dentista de Justin, interpretado por Keanu Reeves. “Não se engane pensando que tem a resposta. O segredo é viver sem resposta”, aconselha a Justin, que, por sua vez, já está prestes a trocar a paisagem algo desolada de sua cidade pela independência em Nova York.
Impulsividade traz ainda uma crítica oportuna à competitividade, tão estimulada na contemporaneidade, através da entrada de Justin num clube de debates em que os participantes se comportam de forma algo fanática e robotizada. E completa o desenho familiar mostrando o jogo de compensações entre Justin, tratado como errado, e o irmão mais novo, Joel, obrigado a compensar o perfil tido como problemático do outro com um comportamento “normal”. São estas observações pertinentes que garantem a qualidade de um filme que, no mais, não se destaca muito pelo fazer cinematográfico. Não se deve, porém, deixar de chamar atenção para a trilha sonora pontuando o rito de passagem de Justin e os trabalhos dos atores principais – Lou Taylor Pucci, premiado com o Urso de Prata no Festival de Berlim, Tilda Swinton e Vincent D’Onofrio.
# IMPULSIVIDADE (THUMBSUCKER)
EUA, 2004
Direção: MIKE MILLS
Roteiro: MIKE MILLS, baseado em livro de WALTER KIRN
Produção: ANTHONY BREGMAN, ROBERT J. STEPHENSON, ANNE CAREY, JAY SHAPIRO
Fotografia: JOAQUIN BACA-ASAY
Trilha Sonora: TIM DELAUGHTER
Montagem: HAINES HALL, ANGUS WALL
Elenco: LOU TAYLOR PUCCI, TILDA SWINTON, VICENT D’ONOFRIO, KEANU REEVES
Duração: 96 minutos