Críticas


TERRA FRIA

De: NIKI CARO
Com: CHARLIZE THERON, SISSY SPACEK, FRANCES MCDORMAND, WOODY HARRELSON
08.03.2006
Por Ricardo Cota
MINA DE FÉ

O ponto de partida é digno do melhor Ken Loach: o tratamento discriminatório sofrido pelas primeiras mulheres contratadas para trabalhar em campos de mineração do norte dos Estados Unidos. Território exclusivo dos machos, as minas, na virada dos anos 70, se transformaram em ringue das mais cruéis e violentas manifestações de assédio sexual e humilhação sexista. O assunto rendeu o livro que suporta o roteiro, escrito a quatro mãos por Clara Bingham e Laura Leedy, cujo título vai direto ao assunto, sem meias palavras – “Class Action: The Story of Lois Jensen and the Landmark Case That Changed Sexual Harassment Law” (Ação de Classe: A História de Lois Jensen e o Famoso Caso que Mudou a Lei de Assédio Sexual).



De início, o filme promete retomar o realismo-sindicalista de Norma Rae, dirigido por Martin Ritt. Há até mesmo uma citação musical ao clássico do gênero Vivendo na Corda Bamba (Blue Collar), de Paul Schrader, seguramente a mais apurada visão do operariado americano nos anos 70. Mas tanto Loach, como Ritt e Schrader são reminiscências longínquas diante da tentação sentimentalista que sufoca as mais nobres intenções de Terra Fria, dirigido por Niki Caro, a superestimada neozelandesa de A Encantadora de Baleias.



Charlize Theron é Josey Aimes, personagem inspirada na real Lois Jensen. Sua vida é um histórico de desonrosas incursões machistas. Estuprada na adolescência por um professor, vítima de violência doméstica na maturidade, decide trabalhar nos gélidos campos de mineração para dar um sustento digno ao casal de filhos, livrando-se assim da dependência de um marido violento. A iniciativa é vista com péssimos olhos pelo pai, ele mesmo um trabalhador da firma que explora minérios. No trabalho, Josey é constantemente assediada, humilhada e menosprezada pelos trabalhadores, que vêem nas mulheres uma ameaça à blindagem masculina do meio.



A chegada de Josey ao novo ambiente rende as cenas mais fortes. A batalha entre os sexos é bem resumida no roteiro através de uma boa exploração das necessidades fisiológicas que distinguem, inevitavelmente, homens de mulheres. O clímax desse confronto se dá na mais impactante seqüência do filme, em que uma trabalhadora é brutalmente incomodada enquanto usa um banheiro químico.



Mas, definitivamente, a denúncia não é o forte do filme. Terra Fria está ali a serviço do Oscar e dos grandes solos de Charlize Theron, cuja beleza, assim como em Monster – Desejo Assassino, é roubada durante boa parte da projeção. As conturbadas relações familiares, tanto com o pai autoritário quanto com o filho fragilizado, são resolvidas respectivamente com um abraço conciliador e um carro aliciador. A concessão romântica ao advogado do bem Bill White (Woody Harrelson) só prejudica o andamento da narrativa e não serve, sequer, para livrar a barra do frágil elenco masculino. Sem contar o ridículo desfecho da seqüência do tribunal, em que a piedade se sobrepõe como julgamento a qualquer reivindicação trabalhista. Como bem definiu a crítica Jessica Winter, do Village Voice, houvesse um veredicto para Terra Fria, este seria: “Culpado por assediar o espectador”.





# TERRA FRIA (North Country)

EUA, 2005

Direção: NIKI CARO

Roteiro: MICHAEL SEITZMAN

Fotografia: CHRIS MENGES

Montagem: DAVID COULSON

Música: GUSTAVO SANTAOLALLA

Elenco: CHARLIZE THERON, SISSY SPACEK, FRANCES MCDORMAND, WOODY HARRELSON, RICHARD JENKINS

Duração: 126 minutos

Site oficial: clique aqui



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