Críticas


CLUBE DA LUA

De: JUAN JOSÉ CAMPANELLA
Com: RICARDO DARÍN, EDUARDO BLANCO, MERCEDES MORÁN, VALERIA BERTUCCELLI, SILVIA KUTIKA
19.03.2006
Por Marcelo Moutinho
DEMASIADAMENTE HUMANO (E VERBORRÁGICO)

Demasiadamente humano é o cinema de Juan José Campanella, diretor argentino que tem se dedicado a dissecar, em película, a crise enfrentada por seu país nas últimas décadas. Crise em sentido lato, que alude à recessão econômica, mas também – e sobretudo – à perda de referenciais próprios, ambas registradas por uma câmera lírica e sob a perspectiva do microcosmo de pequenos núcleos familiares.



Em O Mesmo Amor, a Mesma Chuva, de 1999, as desventuras do escritor frustrado em seu emprego (e depois no amor) davam-se sob o pano de fundo de uma redemocratização que do idílio passa à frustração. De modo semelhante, a descida ao inferno do protagonista workaholic de O Filho da Noiva (2001) era detonada pela ameaça da perda do negócio da família para um poderoso grupo empresarial, num reflexo bastante nítido das conseqüências da abertura econômica geral e sem critérios do governo Menem.



Lançado originalmente em 2004 e atualmente em cartaz no Brasil, Clube da Lua parece fechar essa trilogia portenha da devastação. No novo filme, o cineasta aponta seu olhar para a decadência de um clube recreativo, tipo de instituição muito popular em Buenos Aires a partir dos anos 50. À beira da falência, o Luna de Avellaneda conta com nostálgicos sócios para lutar contra o seu fechamento, que se sugere iminente quando surge, por parte de alguns investidores, a proposta de transformação num rentável cassino. Na liderança dos resistentes, está o taxista Román Maldonado (Ricardo Darín, excelente mais uma vez). Enquanto se desdobra para manter aberto o clube, ele enfrenta problemas no casamento e a falta de dinheiro.



O embate quixotesco e o suplício individual vividos, respectiva e paralelamente, pelos antigos sócios e por Román – pontos centrais de Clube da Lua - são tratados com extrema delicadeza. A exemplo dos títulos anteriores e confirmando a vinculação entre os três filmes, o ator-assinatura de Campanella desempenha o papel de protagonista e o roteiro inclui diálogos bem-sacados, que fazem com competência a ponte entre o particular e o coletivo, esta uma marca patente na obra do cineasta. Também a condução da história reveste-se novamente de uma aura poética que, se por vezes esbarra no melodramático, não chega a perder a sutileza.



Por isso é uma pena que na última meia hora de projeção um trabalho tão bem conduzido ceda a expedientes banais, o que não havia acontecido em O Mesmo Amor, a Mesma Chuva ou em O Filho da Noiva. Quando transporta o conflito entre os defensores da venda do clube e seus opositores para uma assembléia geral, em postura que traz à lembrança a trivial seqüência-clímax dos “dramas de tribunal”, o diretor explicita em verborragia o que havia sido nuance nas duas horas iniciais; transforma em estridência o que era sinuosa melodia.



Nada que invalide de todo o filme, mas o humanismo de Campanella funciona melhor nos sussurros do subtexto.





# CLUBE DA LUA (LUNA DE AVELLANEDA)

Argentina, 2004

Direção: JUAN JOSÉ CAMPANELLA

Roteiro: JUAN JOSÉ CAMPANELLA, FERNANDO CASTETS, JUAN PABLO DOMENECH

Elenco: RICARDO DARÍN, EDUARDO BLANCO, MERCEDES MORÁN, VALERIA BERTUCCELLI, SILVIA KUTIKA, JOSÉ LUIS LÓPEZ VÁZQUEZ, DANIEL FANEGO, ATILIO POZZOBON, HORACIO PEÑA, MARIA VICTORIA BISCAY, FRANCISCO FERNÁNDEZ DE ROSA, MICAELA MORENO, ALAN SABBAG

Fotografia: DANIEL SHULMAN

Música: ÂNGEL LLARRAMENDI

Figurinos: CECILIA MONTI

Edição: CAMILO ANTOLINI

Duração: 143 min

Site oficial: clique aqui

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